A bandeira da República Federativa do Brasil surge a partir da corrente filosófica popular da época, denominada positivismo. Esta corrente foi criada pelo sociólogo francês Auguste Comte em meio a inúmeros revoluções burguesas do século XIX. O positivismo exerceu grande influência no Brasil, principalmente sobre a classe militar, em um momento crucial no país: a transição do Império para a Primeira República, proclamada em 1889. Em sua essência política, o significado era propor a evolução da sociedade de forma organizada. Posteriormente, acabou por assumir um caráter de busca pela fraternidade e evolução da nação. A própria bandeira Brasileira carrega consigo o lema positivista: “Ordem e Progresso”. Portanto, segundo essa máxima, a história dependeria de dois guias: a ordem, que faz com que as fases da sociedade não sejam modificadas por revoluções ou grandes transformações, e o progresso, resultado inevitável de uma ordem que só pode ir para frente.
Somando-se a isso, a influência
do Positivismo no Brasil fundou raízes que legitimam seriamente as
desigualdades sociais presentes no país, pois colabora para o fortalecimento da
ideia de harmonia fundada no cumprimento de papel prescrito pela moral, em
outras palavras, o saber positivo reforça o valor do trabalho prático e a
aceitação de papéis definidos e de “lugares sociais”. A resignação do indivíduo
diante de muitas situações colabora para um cenário em que poucos mandam e
muitos obedecem sob a justificativa da preservação do bem público com ordem e
progresso coletivo. A exemplo do exposto pode-se evidenciar um ocorrido durante
a situação pandêmica da COVID-19 quando o desembargador Eduardo Siqueira foi
filmando humilhando e rasgando uma multa atribuída por um policial devido a atitude
do jurista em se negar a utilizar a máscara como medida de segurança para evitar
a propagação do vírus, assim essa conduta de abuso de poder ilustra a célebre
frase: “você sabe com quem está falando?”.
Na verdade, a cena acima do
desembargador apresenta o autoritarismo tão recorrente na história brasileira
(colonialismo, escravidão, coronelismo, militarismo e etc.) que leva aos
indivíduos a se acostumarem e a se imobilizarem diante a situação de completa
opressão e marginalização social. Ainda no contexto pandêmico, o presidente
eleito pela maioria dos eleitores brasileiros encabeça ideias positivistas
referentes somente a realidade dos conhecimentos que repousam sobre os fatos
observados. Essa mentalidade utilitarista é visível por meio das políticas que
privilegiam a recuperação da economia em detrimento da mortalidade de inúmeros
indivíduos decorrente da doença viral. Ou seja, Brasil não pode parar de lucrar
economicamente, então tudo bem saldo um saldo de 500 mil mortes. Portanto, em
muitos casos, não há a preocupação da reflexão aprofundada acerca da origem das
causas mais intimas dos fenômenos e sim apenas a elaboração de resoluções
pautadas nas leis e nos acontecimentos dos fatos concretos, ou seja, na
apreciação sistemática daquilo que é e não do que deveria ser.
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