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domingo, 18 de julho de 2021

Brasil, 132 anos de desordem e retrocesso

Quem diria que uma filosofia vaga de um autor de 1857 poderia se infiltrar dessa maneira na formação republicana de 1889 no Brasil, alcançando espaço inclusive na bandeira com seu lema “ordem e progresso”? 
Pois bem, foi o que aconteceu com o positivismo, uma filosofia repleta de superficialidade se engendrou nas bases do nosso país de uma maneira jamais vista antes, de uma forma que o superficial passou a fazer parte do mais íntimo do brasileiro. Infelizmente, o tempo passou e este permanece fazendo parte da constituição do povo brasileiro e, principalmente, da nossa política. 
O último presidente que tomou o poder após a fatídica eleição de 2018, Jair Messias Bolsonaro, um homem preconceituoso cujo Messias se limita ao nome, se elegeu trazendo soluções simples para problemas complexos. Bolsonaro é um  exemplo escrachado da falha da filosofia positivista, que fundamenta a ordem nas instituições da família, da igreja, do Estado e da propriedade privada. Estes até parecem os lemas dele, não? 
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, “A propriedade privada é sagrada”, “Eu mostrei, Deus, Pátria e família. Essa é a nossa base para nós construirmos um outro Brasil”, a dúvida que fica é a seguinte: teria Comte orgulho do monstro que ele criou?
Um homem que tenta incessantemente forçar uma ordem desordenada na população para causar algum tipo de progresso, mas que perpetua o retrocesso como regra, fato notável pela nossa economia que vai de mal a pior, o desmonte de diversas universidades públicas, a falta de verbas para a saúde, uma necropolítica que deixou 540 mil brasileiros mortos pela Covid-19, dólar em R$5,12, gás de cozinha em R$100 e a conversão do prato popular clássico brasileiro (arroz, feijão e bife) em um artigo de “elite”, com bife custando mais de R$40 por kg. Acho que ninguém gostaria de ter o nome associado com o desse homem, nem mesmo Comte. 
Nesse sentido, o positivismo nasce como uma corrente filosófica fadada ao fracasso, dado que Comte desconsiderou uma parte fundamental no caminhar da humanidade, subestimou a única coisa que existe em toda e qualquer sociedade como figura viabilizadora do progresso, ele esqueceu das “Lutas de Classes”, termo estudado futuramente pelo sociólogo Karl Marx. 
As “Lutas de Classe” foi o estopim para perceber-se que o progresso não se origina da ordem, mas da desordem e dos conflitos. Por exemplo, logo depois da Inglaterra passar pela Revolução Industrial, os proletários passavam fome e não tinham condições mínimas para um trabalho digno. Após lutas constantes, greves e tentativas de negociações, conquistaram seus direitos e condições um pouco melhores. Outro exemplo seria o sufrágio feminino, que não foi conquistado sem muita luta, suor e sangue derramado, uma desordem essencial para chegar ao progresso. 
Portanto, eu vejo a “ordem e progresso”, termo que fundamenta o positivismo, como uma concepção incorreta e falha, visto que a ordem é, em muitos dos casos (como no atual brasil), uma causadora de retrocesso, uma obstrução da possibilidade de conquistar algo maior, de conseguir levar o Brasil para frente. Ademais, é visível ao longo da história da humanidade fortes exemplos de que a desordem engendrada pode levar ao progresso, pode fazer conquistas maiores que qualquer ordem, como no caso das “Lutas de Classes”. 


Obra do Cartunista Adão Iturrusgarai de 27/04/2020


GABRIEL RIGONATO - 1º PERÍODO NOTURNO


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