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domingo, 18 de julho de 2021

Ordem e desastre

A ordem e a cooperação são os fatores que, por natureza, regem a sociedade das abelhas. Entretanto, devido a diversos infortúnios que vinham ocorrendo na Colmeia L91, essa organização foi desfeita. 

Com a alta demanda de mel no mundo animal, a rainha retirou o dia de folga de todas as operárias, com o intuito de aumentar a produção. A estratégia funcionou durante a primeira semana, todavia, o cansaço tornou-se um grande obstáculo, fazendo com que as abelhas produzissem menos do que inicialmente. A rainha, irritada com a redução de produtividade, impôs uma meta diária que deveria ser atingida e, caso não fosse, a colmeia toda receberia uma espécie de repressão.

Em meio a crise vivida na L91, as operárias começaram a estruturar um esboço de manifestação contra a abelha-mestra. Todas estavam de acordo, exceto uma, a operária 17. Ela alegava que infringir com a ordem presente na colmeia não as conduziria ao progresso, e que, dessa forma, era crucial que cada uma continuasse a exercer suas funções para, assim, manter o bem maior. 17, por ser uma das mais experientes daquela sociedade, conquistou a maioria das operárias com seu discurso - principalmente após relatar que já havia vivenciado conjunturas como essa e que a melhor solução seria prezar pela harmonia e, consequentemente, o progresso seria alcançado. 

O plano revolucionário proposto pelas abelhas foi abandonado. Todas decidiram que se realizassem seu trabalho de forma efetiva, a situação melhoraria. Após três meses, o progresso não veio, pelo contrário, o retrocesso tomou conta do cotidiano da colmeia. A carga horária foi triplicada, houve uma superpopulação na sociedade e a rainha passou a exercer poderes absolutistas, bem como formar uma força militar de contenção às possíveis rebeliões. A operária 17, como consequência do destino ou coincidência, foi a primeira a receber uma punição na monarca: expulsão por baixa produtividade.

A Colmeia L91 aprendeu, da pior forma, que ordem e progresso não são interligados. O discurso de 17, que visava, de certa forma, a neutralidade, serviu para legitimar arbitrariedades contra as abelhas operárias, visto que a ação quase inerte, diante de uma insatisfação geral, levou ao agravamento da situação. Ao contrário do que havia sido dito pela operária, a quebra da harmonia - no sentido positivista da palavra - é necessária para o possível avanço. Evidencia-se, portanto, o caráter ambíguo de se pensar a sociedade como uma “Física Social” - interpretar o mundo e as relações interpessoais  a partir de pressupostos desenvolvidos pela Física, Biologia e Astronomia -, já que, nessa interpretação, existiria, de maneira teórica, um progresso permanente. Entretanto, sabe-se que as sociedades possuem suas contradições, e pensar elas como se pensa as ciências é um erro.


Larissa de Sá Hisnauer - 1º semestre - Diurno


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