20 de julho de 2020,
Eu gostaria de gritar para o mundo que eu não sou disfuncional,
que o meu amar não é imoral e que a luta pelo respeito a minha identidade de gênero
não é um ataque a ordem e a harmonia da sociedade. Mas de qualquer forma, ninguém
me ouviria. A bala atravessaria meu corpo preto antes mesmo de eu tentar dizer
a primeira frase.
Eu não sou a porra de um corpo celeste que está destinado a
ficar sempre no mesmo lugar, dentro da minha história não cabe uma lei
invariável e eu não deveria ser obrigada a negar toda a minha história visando
o “bem comum”.
Conheço bem os guardiões e construtores da moral da família
que toda semana frequentam a rua dos prazeres carnais, mas que em suas casas
condenam qualquer tipo de depravação contra seus preceitos sagrados.
A minha presença foi invisibilizada e sinto como se não
fosse mais uma protagonista da sociedade, e sim uma antagonista que atrapalha
toda a eficácia desse sistema doentio que me coloca como uma anarquista moral.
Eu sinto na pele que a meta dessa sociedade é me eliminar para conseguirem
atingir o progresso. Tento ser mais positiva, mas é inegável que meu corpo é um
alvo.
- Esse texto foi retirado de um pedaço de papel encontrado no bolso de uma transexual queimada viva dormindo.
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