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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Durkheim atemporal: as dimensões da paixão e da razão

O capítulo II (denominado “Solidariedade mecânica ou por similitudes”) do texto “Da divisão do Trabalho Social”, de Émile Durkheim, aborda um tema que já despertava a reflexão em sua época (1893) e que, praticamente um século depois de escrito, mostra-se com uma atualidade impressionante. Trata-se da análise dos laços que mantêm a solidariedade entre as pessoas, discutindo a solidariedade mecânica, suas entranhas e sua presença no passado e nos dias de hoje.
As palavras de Durkheim possuem um acentuado caráter hodierno. Sua preocupação em compreender as relações humanas, buscando entender o funcionamento da coesão social, remete-nos a uma infinidade de exemplos de nosso cotidiano. É muito interessante pensar sobre como a sociedade lidou e ainda lida com as dimensões da paixão e da razão.
O que se percebe é a contínua existência de uma verdadeira consciência coletiva, que funciona como se fosse um especialista, capaz de exercer uma pressão social elevadíssima. Seus impactos ocorrem inclusive no ramo jurídico. Ainda que o direito racional (restitutivo) seja a verdadeira expressão da ordem social moderna, esta nuance emocional e impulsiva mostra-se muito presente.
Este senso coletivo e os entendimentos da opinião pública, muitas vezes, ultrapassam as perspectivas de racionalidade dos próprios operadores do Direito. Como exemplo, os casos que ganham destaque na mídia e se desenvolvem por valores emocionais, e não simplesmente técnico-racionais, tais como a situação do goleiro Bruno e da garota desaparecida Eliza Samúdio.
Durkheim acredita que, nas sociedades primitivas, “o crime não é reprovado por ser crime, mas é um crime porque o reprovamos”. Mesmo hoje se nota uma inclinação social para uma reação penal num mesmo nível pelo qual o delito é sentido, numa espécie de “olho por olho, dente por dente”.
Ademais, estas questões aparentemente primitivas têm-se apresentado através dos mais variados casos, como se percebe através do enorme número de grupos terroristas fundamentalistas, os regimes de extrema-direita que têm voltado ao governo de países europeus, os muitos exemplos de preconceito e racismo sobre os quais temos notícias, etc.
Portanto, Durkheim faz-nos refletir com um texto que percorre um caminho (assunto) recheado de controvérsias: por um lado, a ascendente globalização e o desenvolvimento racional e tecnológico da sociedade e, por outro, a também crescente intolerância das diferenças em escala mundial
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