A análise da sociedade moderna, sem dúvida alguma, surpreenderia Durkheim. O impacto causado pelas paixões humanas, facilmente verificadas em casos polêmicos como a homossexualidade e a aplicação das penas capitais, deixaria o sociólogo perplexo, visto que este considerava a solidariedade mecânica uma característica arcaica e superável pelas gerações.
Quem não se lembra do caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani? A história da mulher condenada à lapidação por ter cometido o crime de adultério após ter ficado viúva comoveu o mundo. A crueldade e extremismo da lei islâmica ou Sharia mobilizou a sociedade internacional e questionou a legitimidade dos Direitos Humanos nos países orientais. Ao observar esse fato ocorrido em pleno século XXI, é notório e inquestionável que “a natureza do crime por si mesma não explica a pena”. Fatores econômicos como a crise mundial ou a falência causam muito mais impactos sociais do que o adultério por si só, porém não se constituem crimes.
O crime possui vários aspectos, porém o mais importante deles talvez seja aquele que só é previsto e condenado pela lei penal porque representa atos “universalmente reprovados pela sociedade”. Isto é, a consciência coletiva, embora característica primitiva, é a primazia da legislação penal e a causa de sua existência. O Estado condena práticas consideradas repulsivas por cada sociedade. O homicídio, um dos crimes com as penas mais exacerbadas, expressa bem essa sede por Justiça guiada pela coletividade.
Os magistrados não sentenciam os acusados sozinhos. O sentimento de vingança e cólera social, estimulados pela passionalidade humana, por vezes são piores que a própria pena. Não é raro recebermos da mídia notícias sobre a perseguição dos familiares e amigos do acusado, ou seja, a pena, mesmo que indiretamente, vai além da figura criminosa.
É um paradoxo imaginar que uma humanidade orgulhosa por suas evoluções científicas seja a mesma que é guiada por paixões incontroladas e pouco úteis ao desenvolvimento cultural e econômico. A intolerância e a liberalidade não devem divergir-se e sim completar-se a fim de preencher a anomia social.
É importante salientar que a civilização pós-moderna não se difere muito daquela vivenciada por Durkheim em 1984. Somos movidos pelas paixões individuais e influenciados, mesmo que indiretamente, pela consciência coletiva. A humanidade segue um lento caminho rumo ao desenvolvimento, entretanto estamos longe de alcançar a tão idealizada sociedade orgânica.
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