'Durkheim já não pensava assim. Para ele, se guiados pela racionalização, os homens poderiam se encaminhar para a produção do Direito, estabelecendo vínculos entre os indivíduos e envolvendo-os em relações de direitos e deveres recíprocos. Esse Direito, sendo reflexo da sociedade da qual se origina, expressa a tentativa em solucionar problemas nela recorrentes; portanto, na sociedade moderna, com o conceito de liberdade já claramente distinto da concepção antiga, tornou-se necessário que ele deliberasse a respeito de casos e assuntos que, conforme se evidenciam no dia-a-dia, têm relevância no sentido de ferirem a consciência coletiva do que é correto.
Nessa linha de pensamento, percebe-se a valorização da coletividade. No entanto, o que se vê é que já muito mais repercussão quando se trata de casos particulares, de acontecimentos mínimos de efeitos praticamente desprezíveis numa visão global. Um contraste e uma verdade.
Aqui vê-se a tomada do senso comum como referência. O que é considerado ofensivo por ele, torna-se "oficialmente" condenável. E, bom, não é difícil enxergar que mesmo diante de acontecimentos muito mais importantes e influentes na sociedade, muitas vezes os holofotes da polêmica focalizam em episódios particulares, de dimensão incomparavelmente menor. Crises em diversos setores, disputas internacionais, aviões caindo e sendo derrubados, terremotos matando milhares e a Sra. Sociedade está sentada na sua poltrona reclinável olhando pra TV sem nem piscar, esperando a senhora loira com sua amiga psicóloga começarem a ouvir os conflitos familiares dos outros pra depois tentarem ajuda-los a solucionar tudo isso. Ufa. A Sra. Sociedade gosta de ver as pessoas salvando o mundo.
Salvando o mundo de todos esses problemas concernentes ao comportamento de alguns elementos específicos que não se adequam ao que deles é esperado. E como esses "desvios" são causadores de tanto falatório, a consciência coletiva concorda que a eles deve-se atribuir pesadas penas. O povo se coloca na posição de juiz e sua intolerância com relação a determinadas posturas o leva a condenar rigorosamente esses indivíduos. Daí resultam as punições como a reprovação, a discriminação e a repressão, gerando nas suas vítimas a vergonha, o constrangimento, a humilhação e possivelmente o surgimento de novos problemas. Além disso, tal reação enérgica do organismo social torna o Direito Penal estagnado, estacionário, ficando as decisões aos caprichos das emoções das pessoas.
Os papeis se misturam e as consequências disso são vistas no cotidiano com facilidade. É o ponto em que a consciência coletiva, por critérios fora da lei, julga quem é fora-da-lei.
É...
Bom, vou aproveitar a oportunidade pra lembrar todos vocês de assistirem ao telejornal hoje. Soube que vão contar do julgamento de um rapaz malvestido que roubou 3 maçãs. Suspeitam que ele vá vendê-las pra depois comprar drogas. Vê se pode um absurdo desses....
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