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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um atraso sociológico

Durkheim em sua época acreditava fielmente que, no futuro, seria possível contemplar uma sociedade moderna em que seus cidadãos teriam deixado para trás velhos "atrasos", aos quais ele se referia por características de uma sociedade "pré-moderna" e "primitiva". Conforme estudamos a obra deste sociólogo, porém, não é tão difícil contextualizar suas críticas da época com a nossa própria contemporaneidade.

Não é preciso nem analisar o nosso sistema penal: Já sabemos o quão desigual ele é. Sabemos que existem milhares de pessoas trancafiadas em celas sem as mínimas condições básicas de sobrevivência humana, pessoas que ainda aguardam o seu julgamento, um processo que para estas, aliás, constitui-se numa mera formalidade, já que também não dispõem de meios para estabelecer uma defesa jurídica básica. E como solucionar o problema de trancafiar nossos presos, se nem ao menos julga-los de forma justa e decente somos capazes de fazer?

Foi descoberto que um político de cargo alto dentro do governo possuía um esquema de desvio de verba, a qual seria destinada a construção de prontos-socorros e delegacias em um bairro com índices sociais baixíssimos. No mesmo dia, nesse mesmo bairro, um jovem de 18 anos recém completados é pego roubando uma loja de conveniência. O primeiro homem, ao saber que foi descoberto, liga para o seu advogado, que logo lhe concede um habeas corpus e uma longa prolongação do processo, através de recursos. O segundo recebe xingamentos e agressões físicas dos policiais, é renegado pela família e logo depois trancafiado numa cela superlotada, com chances bem pequenas de ver sua casa por muito tempo. Esse caso é um exemplo fictício. Mas todos nós sabemos que situações análogas ocorrem todo dia, e toda hora, em todo lugar do globo.

"Cabe ao sociólogo indagar: por que tal sociedade julga assim?", é o que diz Durkheim. E realmente, por que, em pleno século XXI, em uma década em que todos dizem estarmos avançando em um ritmo inédito na história humana, por que nossa consciência julgadora continua repleta de elementos inúteis, atrasados, desiguais? E Durkheim assim define a consciência coletiva: "Produto do desenvolvimento histórico, traz a marca das circunstâncias de toda a espécie que a sociedade atravessou durante a sua história". Produto? Desenvolvimento histórico? Ora, nossa consciência, ao que tudo indica, ainda está estagnada no final do século XIX. Ainda estamos aguardando, de maneira bem calma, aliás, por uma sociedade "moderna".

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