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domingo, 26 de maio de 2019

O materialismo histórico dialético e o avanço do conservadorismo na Era da Informação


Há quase dois séculos, aflorou-se o desenvolvimento do materialismo histórico-dialético, metodologia que determina o passado como força-eletromotriz para a constituição do presente. Com o seu uso mais notável nas correntes marxistas, é comum o equívoco de que tal método é empregado, sobretudo, pela chamada esquerda política em suas formulações acerca da luta de classes como fenômeno gerenciador das sociedades. Contudo, essa perspectiva de movimento presente no materialismo histórico-dialético pode ser observada, e com grande intensidade, nas campanhas e projeções articuladas pelos setores da direita política, isto é, resgatando e adaptando do passado preceitos a serem introduzidos na sociedade contemporânea e objetivando um cenário de interesse: a proliferação do conservadorismo.
Ao estabelecer um paralelo entre as tensões políticas de 1964, que culminaram no golpe militar sobre João Goulart, e a instabilidade política vivenciada no país nos últimos cinco anos, é possível vislumbrar um mesmo artifício de manipulação empregado pelos setores ligados ao fascismo em ambas as conjunturas. Logo após o Comício da Central, por exemplo, ato no qual Jango discursou pela última vez como presidente, grupos da sociedade civil conservadora, incentivados por empresários e norte-americanos, realizaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, episódio marco do avanço do anti-comunismo no Brasil.

Em analogia, a partir de 2014, após os efeitos de crise do capital financeiro na economia brasileira, diversos setores da extrema-direita fomentaram, tanto em manifestações públicas quanto na internet, o repúdio aos petistas – e mais tarde os “vermelhos”, como dizia Jair Bolsonaro, em outras palavras, os inimigos da nação, representantes de um iminente perigo que encaminharia o sistema brasileiro ao comunismo. Desse modo, atribuindo aos seus opositores políticos uma figura maléfica, assim como o havia feito em 1964, a extrema-direita trouxe de volta e adaptado o “fantasma do comunismo” para o dia a dia das pessoas, essas por sua vez tão bem-informadas quanto no século passado.

Diante disso, um questionamento se segue: por que, depois de séculos, tais mecanismos de manipulação ainda têm efetividade sobre as pessoas? A resposta para essa pergunta pode ser observada na obra A Corrosão do Caráter, do sociólogo norte-americano Richard Sennett. Rico, representante da classe média estadunidense, é o reflexo típico de uma sociedade em consonância com o sistema, isto é, que trabalha de maneira excessiva e, ainda assim, prolifera visões conservadoras sem nem mesmo saber o porquê (a exemplo da xenofobia presente na perspectiva do personagem).

Portanto, nota-se a presença do materialismo histórico-dialético por diversas vezes na história dos séculos XX e XXI como instrumento de manipulação social através do resgate a elementos do passado e sua adaptação para as conjunturas presentes, seja na análise de como Benito Mussolini trouxe à sua época o sentimento de nacionalismo do antigo império romano para seu projeto expancionista, seja pelos mecanismos utilizados por Jair Bolsonaro para a introdução de um certa nostalgia social, tendo como fim o enaltecimento da ditadura militar nos dias atuais.

Luiz Carlos Ribeiro Júnior (noturno)

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