Junção
da contradição, pertencemos a um direito divino, assim como também a um direito
posto pelos homens. Através disto, como conceber a existência, se não através da
dialética? A vida compreende o movimento, nesta dança cósmica de eterno
sofrimento. Uma existência concebida por um Direito, que logo é desdito,
refeito, destruído.
A
partir disto, seria o Direito nosso progenitor? Ou seria nosso mestre? Em ambos os casos, o conflito entre gerações é iminente. Mas apesar de não se tratar de uma
briga contra nossos ancestrais, existe a questão do superá-los. Segundo
Aristóteles, o verdadeiro discípulo é aquele que supera seu mestre. Diante
disto, chegamos no questionamento: devemos superar o Direito, este tão
respeitado pai que nos criou? Da mesma forma, o Direito deve sofrer constante metamorfose,
a partir da igual dialética que nos formou enquanto indivíduos. Portanto,
a existência não deve ser demasiada longa, de modo que sua continuidade se deva
a máquinas. Pelo contrário, a dialética nos ensina que a arte, que nos rege, deve
ser a da destruição.
O
Direito pode ser vívido como uma caveira, formado pela opressão da elite contra
a minoria – ordem e progresso sobre a sanguinolenta expressão, de rostos
cortados e mãos maltratadas. Isso porque, ter um ancestral tão nobre como o Direito não é garantia
de dignidade. Ele pode ser injusto como uma existência sem pronúncia, pois para
aqueles que - marginalizados - fogem do ordenamento jurídico, não há direito de fala.
Beijados pela boca de vidro de nosso pai – de fria ternura, assim como a letra
fria da lei – temos cortes por todo o rosto. Assim, somos obrigados a nos
curar, nos mudar diante da ordem de nosso pai.
Na
promessa de segurança – diante de um progresso atrelado a ordem - vivemos na
promessa de um céu divino. Mesmo sem nuvens, se trata de um céu que esconde
suas ilicitudes. É um Direito que nos concebeu para sermos massa falida, nem
mesmo de “humano” podemos nos chamar. O fato do Direito ser nosso pai não
significa que somos filhos dignos dele.
Érika Nery Duarte
Direito Matutino, 1° ano
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