Direito e o devir
dos trabalhadores modernos
Durante muitos
anos as teorias acerca das lutas de classes, assim como o entendimento sobre os
mundos do trabalho se pautaram basicamente nas obras de Karl Marx e Friedrich
Engels, que formularam a tese sobre o materialismo histórico dialético,
proposta que trata o embate entre os opostos como uma força que leva ao
surgimento de algo novo que sintetiza aspectos resultantes dos dois modos
contrários em embate.
Marx e Engels,
acreditavam que somente o capitalismo trazia em si as contradições necessárias
para que enfim, os proletários pudessem se unir e por fim ao jugo dos burgueses
sobre os homens, caminhando assim para o comunismo, um governo feito pelos
proletários para os proletários, contudo tal “revolução” não aconteceu, exceto,
talvez na Rússia czarista, mas esta deu-se de maneira diferente pela idealizada
pelos pensadores.
O que temos nos
dias atuais são relações de trabalho cada vez mais precarizadas, com cada vez
mais horas de trabalho a serem cumpridas, metas, tudo pela famosa e invisível
“gestão inteligente”, tema recorrente de inúmeros “best-seller” escritos com o
intuito de culpabilizar o trabalhador, fazer com que ele assuma culpas e
fracassos, tornando-o assim, um sujeito dócil e adaptável as imposições feitas
por quem só quer saber de cortas os custos e aumentar as receitas.
Richard Sennet, em
seu livro “A corrosão do caráter”, faz um relato interessante sobre tal tema, o
autor narra um encontro com um personagem que já fora objeto de sua pesquisa,
pois seu pai foi objeto do autor em uma pesquisa que levava em conta o modo
como pessoas pobres de origem imigrante se relacionavam com o trabalho nos
Estados Unidos na década de 1980, e ao narrar tal episodio ele faz comparações
entre como o jovem e seu pai enxergavam sua relação com o trabalho, mesmo não
tendo consciência deste fato.
O jovem citado por
Sennet, ao narrar sua historia ao autor faz uso de termos que este percebe e os
explica muito bem, pois mostra que o jovem projeta a culpa pela perda do
emprego em si mesmo, assim como, não admite que foi demitido mas “passou por
uma crise”, tais jogos de linguagem demonstram como a flexibilização nas
relações de trabalho afetaram a relação como os trabalhadores se enxergam e
enxergam as funções que exercem.
Tais reflexos de
como os indivíduos veem sua relação com o trabalho, e como o mercado, que nada
mais é do que a vontade das grandes corporações, donas do dinheiro e dos meios
de produção, veem seus trabalhadores, sabendo que não existe espaço para que
esses se revoltem, o capitalismo global criou o excedente de mão de obra, ou
seja, para cada grupo de trabalhadores que desejam lutar por melhores condições
de trabalho existe um exercito de desempregados dispostos a assumir suas
funções pela metade do salário.
Dani Rodrik, autor
do livro “A globalização foi longe demais?”, trabalha tais perspectivas em sua
obra, pois para cada empregado que se dispôs a participar de uma greve na
Europa por melhores condições de trabalho, esta vaga de emprego foi transferida
a um país periférico, inserido na lógica global da produção capitalista,
olhando por esta perspectiva, a revolução sonhada por Marx e Engels não se
concretizará, pois o mesmo trabalhador que se sujeita a relações de trabalho
degradantes enxerga outro trabalhador como rival e não como igual que sofre as
mesmas mazelas.
E onde esta o
Direito nisto? O Direito, tem como função neste mundo globalizado, defender os
trabalhadores destas situações degradantes. Sendo como usuário de um sistema de
leis positivadas acerca das relações sociais desenvolvidas a partir do
trabalho, fazendo com que tais leis possuam mecanismos de defesa aos
trabalhadores; seja como um operador da jurisprudência consuetudinária,
enxergando tendências na sociedade e legislando para que estas se incorporem
aos códigos legislativos da sociedade.
Enfim, o Direito,
em nossa sociedade moderna, baseada no capitalismo tecnológico que vivemos
ganhou a função de tutor dos trabalhadores, buscando para estes dirimir as
atrocidades que podem ser cometidas pelos que se dispõem a utilizar-se do
capitalismo para exaurir as forças produtivas dos inúmeros trabalhadores
espalhados pelo mundo.
Cassiano Mendes
Cintra 1º Ano Direito Noturno
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