Organismo mecânico

 

     Émile Durkheim, sociólogo e filósofo, foi importantíssimo para a construção da sociologia. Seus conceitos ajudaram e foram bases para a definição dessa ciência. Para ele, a sociedade é composta pelas consciências individuais e a coletivas. A primeira seria a personalidade e visões individuais de cada indivíduo, já a segunda seria um conjunto de crenças comuns, padrões e regras que já estão estabelecidos naquela sociedade. Com isso, ele estabelece dois conceitos de solidariedade, um nas sociedades pré-modernas e outro na modernidade, sendo da primeira a mecânica e da segunda orgânica. A mecânica, no âmbito do direito, seria aquela que pune os indivíduos para que sirva de exemplo para todos do seu grupo; já a orgânica seria uma punição readaptativa ou restitutiva, isto é, com o objetivo de que aquele indivíduo volte para sociedade e continue cumprir suas funções.

    Essas definições e pensamentos foram assertivas para o entendimento e o estudo das sociedades, porém, aquela forma de direito vista na solidariedade mecânica ainda é bastante nítida atualmente. Tanto no jornalismo que incita a punição, com a famosa fala “bandido bom é bandido morto”, quanto nas redes sociais, que de alguma forma, servem como um “tribunal online”, com os famosos “cancelamentos” e “exposed”. Se nas sociedades pré-modernas as punições serviam de exemplo para os outros, essas atitudes de expor os erros, atualmente, assim também se faz, o medo de se posicionar e de participar de uma discussão mais problemática se torna evidente.

    A proposta do direito nas sociedades modernas, em teoria, seria a reinserção do indivíduo na “engrenagem social”, já que o “orgânico” proposto pelo Durkheim é considerando a sociedade como um corpo em funcionamento, com cada parte com sua função, portanto, necessário não só a punição, mas também a reeducação para que ele possa voltar a desenvolver seu papel. Importante deixar claro isso é totalmente uma visão de Émile, porque sabemos que isso não se concretiza em nossa sociedade.

    Portanto, tanto o direito quanto as redes sociais deveriam servir como um lugar de construção de ideias e debates, e não uma forma de exclusão de indivíduos que não compactuam com a ideia que ali domina. A construção da sociedade e sua evolução é feita dessa maneira, com a busca de novas perspectivas, com o uso do debate construtivo e também a tentativa de fazer com que cada cidadão encontre seu lugar e seu papel naquela sociedade.

Rafael Martins Biernath - 1º ano - Noturno