Emilé Durkheim, pensador francês, é um grande responsável pela concretização da sociologia enquanto ciência. Em sua teoria, abordara a maneira com a qual a sociedade expressa coesão entre si ao delinear a definição da teoria dos fatos sociais e das forças coercitivas que regem à coletividade como um todo. Ademais, seus estudos permitiram a estruturação de um conceito de corpo social – associando o funcionamento da população com um organismo vivo. Posto o panorama, pode-se analisar a existência de paralelos entre a teoria de Durkheim e o cenário atual inflamado pela vigente pandemia da Covid-19.
Para compreensão de tal intersecção, é necessário investigar a teoria do sociólogo francês em seu cerne. Para Durkheim, os fatos sociais são manifestações individuais de uma consciência coletiva, como exibições implícitas da atuação de uma ação coercitiva sob o meio social. Desse modo, depreende-se que ir de encontro ao que é acatado como “fato” é interpretado pela ótica geral como algo a ser reprimido em nome da preservação da normalidade habitual causada pela impregnação dessas leis que nos regem. Além de tais fatos – considerados fundamentais para o trabalho da sociologia -, tem-se as formas com as quais a coerção age sobre tal corpo social. Destaca-se, então, a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. Ao passo que a primeira se aplica a sociedades não impactadas pelo capitalismo, cuja coesão é mais evidente pelo seu fechamento em torno de sua própria autonomia, a segunda demonstra as influências capitalistas em sua divisão social do trabalho, de tal forma que gera agrupamentos revitalizados pela interdependência de suas funcionalidades perante o grupo em sua totalidade.
Em vista da elaboração dos conceitos supracitados, torna-se indubitável a possibilidade de aplicação desse viés sob a conjuntura pandêmica instaurada nos últimos meses. Em consequência de uma situação que afeta diretamente a estabilidade do tecido social, o uso de métodos de prevenção ao contágio pelo vírus Sars-Cov-2, como máscaras e distanciamento interpessoal, passa a ser entendido como norma que conduz o andamento da sociedade contemporânea. Pondera-se, assim, o estranhamento repentino a hábitos uma vez considerados comuns e, sobretudo, aceitos, como a própria não utilização de máscaras em locais de ampla circulação. Não obstante, a garantia de efetividade desses mecanismos é assegurada justamente pela expectativa de censura e advertência pela má conduta nesses casos.
Ademais, cabe relacionar o cenário supracitado às formas de coesão supramencionadas. Conflitos de interesses causados pela estrutura econômica dada a crise sanitária que se agrava, como a decisão de reabertura ou não do comércio, são demonstrações evidentes da atuação da fragmentação do trabalho em meio ao quadro da solidariedade orgânica. Se ora a fragmentação dos ofícios sob a ordem capitalista corrobora no fortalecimento dos vínculos comunitários, a pandemia em suas facetas exalta a maneira com a qual tais enfrentamentos ferem o corpo social ao colocarem em evidência a decorrência da sobreposição ambições particulares.
Por fim, entende-se a atualidade das formulações feitas por Emilé Durkheim nos primórdios da sociologia enquanto estudo científico. A identificação dos fatos sociais na sociedade moderna atende à necessidade sociológica de entendimento de mecanismos e fundamentos para o estudo da conjuntura por completo. Além disso, tem-se nos comportamentos criados pela pandemia em ascensão a aplicabilidade desses fatos, as forças de coerção em processo e a solidariedade em seus moldes independentes. À luz dos fatos sociais
Giovanna
Spineli de Paiva – Noturno (1º ano)
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