Com o advento das redes sociais, sobretudo na última década, houve um enorme crescimento nas relações sociais entre grupos que anteriormente as essas redes jamais teriam tanto contato entre si, como é o caso da união dos extremistas políticos em nível nacional. Partindo de uma análise com o método de Durkheim, o fenômeno social do “Gado” cabe perfeitamente à definição de fato social como será mostrado a seguir.
Primeiramente, há de se definir esse fenômeno em função das suas propriedades inerentes. Os sinais externos e genéricos que prontamente identificam-no são o caudilhismo, o sebastianismo, o negacionismo e, evidentemente, a cegueira ideológica. Ou seja, em termos práticos, é observado como o comportamento coletivo de adoração fanatizada a uma figura pública, carismática ou não, contando com apoio irrestrito a toda e qualquer ação desse político - ora divinizado, ora aclamado como salvador da pátria -, além da manipulação ardilosa que ele realiza sobre esses eleitores através dos meios de comunicação das redes sociais para um fim específico - cuja finalidade pode ser desde uma militância simples a uma destruição de reputação. Ademais, é possível observar que esse fato não depende de algum indivíduo para se manifestar, visto que apesar da nomenclatura moderna se referido a bovinos, não é um fato novo para a sociedade brasileira - estando presente desde antes Brasil Republicano - assim, é também exterior aos indivíduos, pois o fenômeno já se manifesta antes mesmo da existência dos indivíduos que pertencem a esse fenômeno; por fim, se tentado confronto com esse fato, há coerção externa contra quem atenta, provando sua existência a partir da resistência que oferece.
Diante desses sinais, é modelado o “Gado” como fato social, como objeto de estudo, e distanciado de uma análise ideológica, portanto reconhecido por qualquer olhar sociológico atento. Cabe aqui aplicar essa definição à realidade mencionada, cuja ocorrência se dá entre eleitores - não somente alinhados ao espectro político da direita, mas também da esquerda. Como primeiro sinal apontado, o Caudilhismo, partindo da definição sumária e adaptada à modernidade, que se relaciona com a personificação carismática de um líder, sem ideologia definida, que busca manter os privilégios das elites, sem realizar grandes transformações estruturais e donos de grandes exércitos virtuais. Ou seja, com menor ou maior intensidade, é o que acontece no momento político atual e o que ocorrera no momento político sob o maior nome político da atual oposição.
Em seguida, o Sebastianismo também pode ser constado, levando em consideração a definição desse sinal como um mito messiânico que consiste na esperança da vinda de um salvador da pátria que trará mudanças político-econômicas. Com isso, novamente, pode ser plenamente constatado na política recente do país em ambos espectros políticos, com eleitores defendendo seus representes com argumentos divinizados, como o Messias (enviado por Deus), ou com argumentos de seu representante ser o único, o superior capaz de salvar a pátria e o povo, de encerrar toda a miséria e os problemas nacionais.
Como apontado, o negacionismo também é um sinal comum. Partindo da definição genérica que se baseia na escolha de um indivíduo em negar a realidade para escapar de uma verdade desconfortável. Logo, observando o cotidiano há, essencialmente, os negacionismos da história e da ciência, representando o “Gado” de direita, como os recentes acontecimentos envolvendo o medicamento Hidroxicloroquina, ou os ligeiramente mais antigos, como a idealização da Ditadura militar ocorrida da década de 1960 a de 1980 e, até mesmo, o Brasil Imperial. Já para o “Gado” de esquerda, vê-se o negacionismo da política e da Justiça, como se pode verificar por exemplo, respectivamente, com a enorme resistência do maior partido de oposição em criar alianças com os demais partidos em nome de uma superioridade política, e da criação da conspiração do enviesamento da Justiça Federal no julgamento daquele expoente da oposição, mesmo considerando os erros e exageros desse processo, não necessariamente absolve-o.
Por último, o sinal da cegueira ideológica é definido como o comportamento de agir sem qualquer limite para seguir a ideologia na qual acredita. Pode ser observado com o incessante apoio eleitoral ao atual presidente por parte considerável da população, mesmo com as atrocidades deste na saúde pública, corrupção ou envolvimento com o crime organizado, representando a direita; ou o apoio a regimes autoritários pela questão de afinidade ideológica, nesse caso seguindo a máxima do “inimigo do meu inimigo é meu amigo”, representando a esquerda.
Então, assim como leciona Durkheim, o fenômeno observado é tratado sem qualquer pré-noção ou intromissão de sentimentos; ao contrário, foi definido previamente caracteres exteriores e objetivos que podem ser mostrados a todo mundo e, dessa forma, proporcionando uma medida padrão que pode ser aplicada a realidade independentemente de posição partidária, com o intuito de pensar a partir da observação da coisa e se utilizar da reflexão para explicá-la e não ao contrário. É importante o aprofundamento nessa questão pelo motivo de essa ser a base da atual polarização política que o país vive, necessitando como nunca de uma ciência mais especializada sobre essa realidade e não mais análises e debates ideológicos.
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