Moderno, mas Primitivo
No final do século XIX, mais precisamente no ano de 1895,
Émile Durkheim publicou sua obra: “As Regras do Método Sociológico”. Neste
livro, o autor propõe à sociologia um novo objeto de estudo, o “fato social”. Durkheim
define seu objeto da seguinte forma: “É fato social toda maneira de agir fixa
ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”. Há, também,
um outro conceito que precisa ser explicado, a “solidariedade mecânica”,
definida pelo autor como uma consciência coletiva, que, intrinsecamente,
estabelece padrões de conduta, comportamento e mentalidade e, desse modo, formas
alternativas à essas são vistas como ameaça pelo grupo dominante que
estabeleceu os padrões.
Tal “solidariedade mecânica” seria predominante nas
sociedades pré-modernas, como afirma o autor. Mas, aparentemente, se fizermos
uma análise precisa de nossa realidade atual, podemos enxergar que esse
conceito não está tão distante assim. Proponho, dessarte, uma retomada histórica:
voltemos ao período da escravatura, no qual se um escravo desobedecesse alguma
norma imposta pela Casa Grande, o “fato social”, sofreria o que definimos como “castigo
exemplar”, uma punição física realizada a frente dos demais escravos para gerar
uma coerção psicológica nos mesmos e, assim, sentindo-se ameaçados, não repetiriam
o ato. Eis, então, a “solidariedade mecânica”, que estabeleceu os padrões de
conduta a serem seguidos pelos escravos e toda e qualquer subversão a esses padrões
seria reprimida duramente pelo grupo dominante branco.
Terminada essa proposta, voltemos à atualidade. Na sociedade contemporânea,
os padrões conservadores e tradicionais ainda exercem uma coerção colossal
sobre a vida dos indivíduos, um “fato social” ainda muito presente. Peguemos de
exemplo, agora, os indivíduos pertencentes à comunidade LGBT+; todos os dias são
alvo de homofobia, seja ela psicológica e/ou física, caracterizando, assim, a coerção
exercida pelo “fato social” dos padrões tradicionais. Tal homofobia é o melhor
exemplo que consigo imaginar para ilustrar a “solidariedade mecânica” em nossa
realidade, quando um homossexual é linchado por um grupo de pessoas em
prol da não subversão dos padrões conservadores impostos pela elite branca,
isso é mais que autoexplicativo.
Portanto, infelizmente, ao analisarmos nossa realidade contemporânea,
tendemos a querer nos definir como super desenvolvidos e modernos e, em partes,
isso é verdade no campo tecnológico-cientifico, mas nem um pouco no campo
social. Ainda precisamos evoluir muito conceitos como respeito e tolerância,
pois só assim deixaremos de ser uma sociedade primitiva de fato.
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