O sociólogo Émile Durkheim observa a necessidade de se
analisar os fatos sociais como coisas, ou seja, afastar-se das emoções e visões
pré-concebidas que possuímos, de modo a fazer uma análise sociológica mais crítica
e completa, e não uma pautada em pressupostos e ideologias (críticas que ele
aponta para o marxismo e o positivismo, que já estabelecem todo o curso
histórico com um objetivo: a luta de classes e o colapso do capitalismo, no
primeiro ou o estabelecimento da ordem como uma necessidade ao progresso
civilizatório, no segundo.)
Se formos avaliar essa questão na sociedade brasileira
contemporânea, marcada por suas desigualdades endêmicas e cada vez maior
polarização política, veremos um preocupante avanço no que se diz respeito a
interferência dos anteriormente citados pressupostos e ideologias (que Francis
Bacon nomearia como ídolos da mente), não só entre importantes figuras de alto
escalão do atual governo, mas também entre uma parcela considerável da população.
Levados pelas ideias que vem sendo propagadas por essas
representações importantes do governo, as pessoas tendem a questionar os
fundamentos estabelecidos pela ciência, em favor de uma pseudociência que tende
a alastrar fatos sem nenhuma base cientifica, que contam com a elucidação
apenas das crenças dessas pessoas e de seus
objetivos pessoais por trás da tentativa de difusão desses ideais.
Em seu livro “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim remete
a Francis Bacon, ao dizer que as pré-noções e as convicções ideológicas são um
obstáculo a busca pela verdade cientifica, o que se comprova nesse cenário de
pandemia, onde seguindo tendências ideológicas, temos visto a negação da
ciência a proporções cada vez maiores, como vem sendo o caso do desrespeito as
ordens de isolamento, e a contínua propagação da hidroxicloroquina como um
método eficaz no combate à Covid-19.
Com isso, ao se chegar ao ponto de pessoas desrespeitarem as
regulamentações de órgãos como a OMS (Organização Mundial da Saúde), que conta
com o respaldo de pesquisadores de todo mundo, e insistirem em métodos
ineficientes e medicamentos comprovadamente ineficazes para tratamento do
vírus, apenas demonstra o estágio avançado que nos encontramos no que se refere
a dominação do mundo cientifico por correntes ideológicas, o que se apresenta
como o primeiro passo em frente a uma derradeira queda até a anomia social.
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