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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A Cultura do Cancelamento como Fato Social

Émile Durkheim defendia a análise da sociedade de maneira objetiva, para que a subjetividade do cientista não interfira o estudo da ciência social. Nesse contexto, Durkheim elabora a teoria do fato social, a fim de facilitar o tratamento dos fenômenos sociais como coisas, de modo que haja maior objetividade, como existe nas ciências naturais. 

Os fatos sociais são elementos que constituem na sociedade, caracterizados por serem exteriores, coercitivos e gerais. Desse modo, os fatos sociais são inerentes ao ser humano, exercem influência nas ações dos indivíduos, e se aplicam a todos os indivíduos na sociedade. 

Na realidade contemporânea, é possível analisar a “cultura do cancelamento” como um fato social, que se apresenta recorrente no cotidiano, principalmente nas redes sociais. O “cancelamento” começou como uma forma de chamar a atenção para causas sociais através da cobrança de que o cancelado, seja ele uma empresa, grupo ou personalidade da mídia, se responsabilize pelas ações equivocadas cometidas. Porém, o cancelamento se perdeu em sua essência à medida que se tornou uma forma de propagação de ódio e linchamento virtual, além de ter sido banalizado por grande parte dos internautas das redes sociais, que passaram a cancelar indivíduos por motivos pessoais ou sem embasamento.

E a cultura do cancelamento consiste um fato social, pois além de sua exterioridade e generalidade apresenta a coercitividade, de maneira que o medo de ser cancelado coage indivíduos a não cometerem determinadas ações. Desse modo, o indivíduo não deixa de realizar determinada ação por entender que ela é errada, e sim por receio do linchamento que vai receber se expor se essa ação vier a público. Além disso, quando há um cancelamento, os outros indivíduos são coagidos a “cancelarem” o “cancelado”, pois se não o fizerem serão os próximos cancelados, devendo afastar-se ou se tornar odioso.

Em suma, a cultura do cancelamento se tornou extremamente prejudicial para a defesa de causas sociais nas redes, pois a cobrança necessária de personalidades ou grupos pelos seus atos agora é confundida com um “cancelamento”. Além disso, o linchamento virtual e a propagação de ódio gratuito foram estimulados por essa cultura, principalmente no contexto de pandemia mundial,na qual o uso cotidiano de computadores e celulares aumentou drasticamente.


Pedro de Miranda Cozac - Direito Matutino

 

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