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terça-feira, 23 de agosto de 2016

A longa luta de Etiénne

Na obra “Germinal”, clássico de Émile Zola, em dado momento trabalhadores de uma mina de carvão na França resolvem sair em greve devido a uma possível redução de seus salários por parte de seus patrões, já tendo em vista as condições insalubres em que trabalhavam. Paralelamente, acompanhamos a vida burguesa dos proprietários da mina, os quais se ocupam em tomar seus chás e discutir seus problemas de natureza familiar-amorosa. Em cena icônica, a família vê pela janela os grevistas avançarem em direção a sua casa, prontos a destruírem tudo, embora momentos depois sejam repreendidos violentamente pela polícia.

Tal situação apresentada na obra se classifica como uma perfeita síntese do que simboliza o pensamento marxista, desenvolvido por Karl Marx em parceria com Friedrich Engels. Os trabalhadores da mina representam os proletários, explorados em suas condições de trabalho e que também não se reconhecem no que produzem, uma vez que sua realidade (toda a família do protagonista, Etiénne, vive junto, sem a menor condição de subsistência) é muito diferente da de seus patrões.

A greve com a diminuição dos salários nada mais é, portanto, do que a representação da tomada de consciência de classe por parte dos trabalhadores. E mais do que isso: percebendo-se explorados, eles vão à luta contra aqueles que os exploram, numa clara manifestação de que pretendem derrubar a ordem em que vivem. Assim, não se contentam apenas com promessas, ideias ou sonhos de um mundo melhor – como proclamaram os socialistas utópicos e até mesmo a dialética idealista hegeliana -, mas reconhecem sua situação e lutam pela transformação material do mundo em que vivem.

A repressão por parte do Estado também faz parte da simbologia em questão. O Estado no caso, simbolizado por um de seus instrumentos – a força repressiva policial – age a favor dos interesses da classe dominante, sem reconhecer que os próprios policiais, enquanto trabalhadores do Estado, também são explorados pelo mesmo. É exatamente por isso que se trabalha o fato de que, quando acontece a revolução proletária e os meios de produção passam a pertencer a todos, se faz desnecessário o mecanismo estatal e atinge-se o estágio comunista.

Embora “Germinal” se situe no século XIX, a atualidade da questão que põe em pauta é irrefutável. A exploração capitalista permanece nos dias presentes, só que agora assume suas formas contemporâneas, com a valorização do livre mercado, as redes sociais sendo utilizadas para a criação de uma cultura ideológica de massa, a concorrência exacerbada pelo individualismo e etc. Entretanto, ao mesmo tempo, as grandes crises do sistema já começam a se tornar identificáveis para o bom analista histórico: a Crise de 2008 se encontra longe de ser superada e cada vez mais ganha dimensões diferentes pelo mundo, como quando assumiu o formato de crise na União Europeia ou a corrente crise econômica brasileira. Os que analisam tal Crise de forma mais pessimista apontam que, além de mais duradoura em seus efeitos do que a Crise de 29, ela é capaz de apontar para futuras crises ainda maiores, como faz o filme “A Grande Aposta” ao afirmar que o capitalismo levará a uma crise da água nas décadas seguintes.


De todo esse panorama, apenas uma conclusão: para aquele que apenas observa e aguarda, existe a utopia. Para o que se inconforma e se indigna, há a luta.

Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
1º Ano - Direito Matutino 

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