Na obra “Germinal”, clássico de Émile Zola, em dado
momento trabalhadores de uma mina de carvão na França resolvem sair em greve
devido a uma possível redução de seus salários por parte de seus patrões, já
tendo em vista as condições insalubres em que trabalhavam. Paralelamente,
acompanhamos a vida burguesa dos proprietários da mina, os quais se ocupam em
tomar seus chás e discutir seus problemas de natureza familiar-amorosa. Em cena
icônica, a família vê pela janela os grevistas avançarem em direção a sua casa,
prontos a destruírem tudo, embora momentos depois sejam repreendidos
violentamente pela polícia.
Tal situação apresentada na obra se classifica como
uma perfeita síntese do que simboliza o pensamento marxista, desenvolvido por Karl
Marx em parceria com Friedrich Engels. Os trabalhadores da mina representam os
proletários, explorados em suas condições de trabalho e que também não se
reconhecem no que produzem, uma vez que sua realidade (toda a família do protagonista,
Etiénne, vive junto, sem a menor condição de subsistência) é muito diferente da
de seus patrões.
A greve com a diminuição dos salários nada mais é,
portanto, do que a representação da tomada de consciência de classe por parte
dos trabalhadores. E mais do que isso: percebendo-se explorados, eles vão à
luta contra aqueles que os exploram, numa clara manifestação de que pretendem
derrubar a ordem em que vivem. Assim, não se contentam apenas com promessas,
ideias ou sonhos de um mundo melhor – como proclamaram os socialistas utópicos
e até mesmo a dialética idealista hegeliana -, mas reconhecem sua situação e
lutam pela transformação material do mundo em que vivem.
A repressão por parte do Estado também faz parte da
simbologia em questão. O Estado no caso, simbolizado por um de seus
instrumentos – a força repressiva policial – age a favor dos interesses da
classe dominante, sem reconhecer que os próprios policiais, enquanto
trabalhadores do Estado, também são explorados pelo mesmo. É exatamente por
isso que se trabalha o fato de que, quando acontece a revolução proletária e os
meios de produção passam a pertencer a todos, se faz desnecessário o mecanismo
estatal e atinge-se o estágio comunista.
Embora “Germinal” se situe no século XIX, a atualidade
da questão que põe em pauta é irrefutável. A exploração capitalista permanece
nos dias presentes, só que agora assume suas formas contemporâneas, com a
valorização do livre mercado, as redes sociais sendo utilizadas para a criação
de uma cultura ideológica de massa, a concorrência exacerbada pelo
individualismo e etc. Entretanto, ao mesmo tempo, as grandes crises do sistema
já começam a se tornar identificáveis para o bom analista histórico: a Crise de
2008 se encontra longe de ser superada e cada vez mais ganha dimensões
diferentes pelo mundo, como quando assumiu o formato de crise na União Europeia
ou a corrente crise econômica brasileira. Os que analisam tal Crise de forma
mais pessimista apontam que, além de mais duradoura em seus efeitos do que a
Crise de 29, ela é capaz de apontar para futuras crises ainda maiores, como faz
o filme “A Grande Aposta” ao afirmar que o capitalismo levará a uma crise da
água nas décadas seguintes.
De todo esse panorama, apenas uma conclusão: para
aquele que apenas observa e aguarda, existe a utopia. Para o que se inconforma
e se indigna, há a luta.
Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
1º Ano - Direito Matutino
1º Ano - Direito Matutino
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