Para Marx, um cientista
do século XIX, o colapso do capitalismo seria inevitável, ante o agravamento
das contradições de tal sistema. Contudo, até então, apesar de enfrentar
diversas crises, como a de 1929 (uma crise de superprodução, conforme
conceituação do próprio Marx), o sistema capitalista tem demonstrado singular
resistência, dada a sua capacidade de mitigar os efeitos da mais-valia e
considerando-se a capilaridade do mercado.
A mais-valia, que
representa a exploração do homem, cujo tempo total de labor não é remunerado
integralmente, ainda persiste, entretanto, não desencadeou a falência do
capitalismo, visto que, ao longo da história, foram realizadas concessões aos
trabalhadores, como a gratificação natalina, os descansos semanais remunerados,
as férias remuneradas, a redução de jornada, isto é, direitos trabalhistas que
mitigam os efeitos da exploração, permitindo aos indivíduos integrarem-se,
mesmo que parcialmente, ao mercado como consumidores, o que fomenta a sustentação daquele
e o conformismo destes.
Já a capilaridade do mercado
deve ser compreendida no tocante à capacidade dele de abranger diferentes segmentos
de atuação e atingir os rincões do planeta. Ressalta-se que, na sociedade
pós-moderna, até mesmo o prazer sexual é regulado pela lógica mercadológica, com a oferta maciça
de locais diferenciados para a prática sexual, de acessórios, vídeos, produtos
eróticos e medicamentos para o tratamento da disfunção erétil, os quais também
são consumidos por indivíduos saudáveis, visando à maximização do prazer,
tão propalada pelo mercado. Quanto à atuação do mercado em lugares remotos, pode-se
afirmar, atualmente, que não é incomum o consumo de celulares, computadores e
demais produtos eletrônicos em tribos indígenas, por exemplo.
Por fim, embora a teoria
marxista possa ser criticada no que tange à proposição da destruição do mercado
por si mesmo, não se pode desconsiderar que Marx e sua ciência resultaram do
contexto do século XIX. Ademais, embora algo da linguagem marxista acerca da
economia tenha envelhecido, muitas ideias de Marx sobre o Estado e a política
na sociedade de classes continuam mais atuais do que nunca.
Marcos Paulo Freire - Direito Noturno
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