O Bonde São Januário leva mais um operário. Vai, pois, suportar nos ombros o peso deste mundo caduco. Possui olhos que não choram, coração seco, mãos que tecem e a feição fatigada pelas intempéries. Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos.
Eu, daqui, observo-o do lado de lá. Assim foi, é e sempre será. Do Morro da Babilônia à Ilha de Manhattan. De Itabira ao Méier. O operário vai firme, no conto, no drama e no discurso político, enquanto os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram e esquecem nas areias quentes do Leblon; enquanto os conselheiros angustiados deleitam-se em ninhos de amor; enquanto bebemos honradamente a nossa cerveja, mirando as águas tranquilas ao som do Bolero de Ravel. Vai apressado, pois é preciso chegar a tempo.
É preciso trabalhar.
É preciso produzir.
É preciso lucrar.
É preciso oprimir.
É preciso explorar.
E ser explorado, não mais. Mil corpos labutando em mil compartimentos iguais. Mil que sustentam um, não mais. Vamos de mãos dadas, os mil, ou mais. É preciso lutar.
É preciso resistir.
É preciso revolucionar.
É preciso unir.
É preciso anunciar o FIM DO MUNDO...
...e o começo de uma nova era
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