O Anseio
Toca a sirene na fábrica e logo me encontro de pé
Conversando com um camarada enquanto bebo meu café,
Batemos papo sobre tudo, mas principalmente sobre o cansaço.
Começo a sentir algo diferente que me faz querer erguer o
braço.
Balbucio algumas palavras na boca sem saber qualquer jargão,
Logo sento pois me falta algo para expressar a insatisfação.
Não consigo juntar as palavras que compõem minha agonia.
Só sei que tudo isso é culpa de uma tal de mais-valia.
O problema é que quando ouço nome difícil minha cabeça coça
E penso que mais valia mesmo era ter continuado na roça.
Lá sim eu colhia os frutos da minha vida campense,
Pois se tudo nóis produz a nóis tudo pertence.
Frase bonita essa que eu li num livro cor de sangue,
Dizia também que patrão era mais podre do que mangue.
Por mais que seja verdade eu prefiro não comentar...
O Manoel ficou calado e só fez foi ganhar,
Subiu na vida a ponto de mudar sua conduta
E ser capaz de convencer até os bacanas da sua luta.
Recentemente ele até apareceu aqui na fábrica
Falando que ia melhorar nossa vida como num passe de mágica.
Olha, aprendi que todo homem de terno não é muito confiável,
Por isso gosto do meu macacão que deixo em cima do móvel
Quando chego em casa e
torço pra ser iluminado
Por quem sabe aqueles alemães que falam do proletariado.
REsolvo deixar de papo besta e descansar do trabalho,
VOltarei amanhã a levantar mais cedo do que o orvalho.
LUa nenhuma sairia sem antes me ver parado na estação
SÃO de corpo, porém transtornado de coração.
Pois quando chega o trem esqueço até de pensar na minha
existência
E só aguardo o dia em que nossa classe também terá uma
consciência.
Vítor Hugo Cordeiro - 1º ano Diurno-
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