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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Tempos cruéis

O filme Tempos Modernos, cujo personagem principal é Charlie Chaplin, aborda uma perspectiva de forte crítica ao modo de produção capitalista e aos seus pilares de sustentação. Nesse sentido, elucida-se a história de um operário que, em razão de uma "monotonia frenética" do seu ofício, enlouquece e entra num estado de crise nervosa. Mesmo após a saída do hospital, Chaplin convive com as intensas amarras do sistema capitalista predatório: é preso injustamente como um agitador comunista.

Tempos Modernos abarca uma ampla discussão e contextualização dos ideais promovidos por Marx. De antemão, pode-se elaborar o panorama da exploração de classe. Nessa toada, Chaplin, configurado na categoria de operário de uma indústria de maquinarias, é intensamente explorado por seu patrão, um burguês detentor dos meios de produção. Como a personagem não os detém, cabe a venda da sua força de trabalho, o que configura intensa subordinação econômica e social do trabalhador à classe dominante. 

Nessa perspectiva, a exploração do homem pelo homem, abordada por Marx, acompanha a mais-valia, que consiste na apropriação de grande parte do lucro pelo proprietário dos bens de produção, enquanto ao operário é relegada uma pequena parcela do lucro gerado pelo seu trabalho manual. Tal contextualização está intrínseca também na questão da alienação do proletário: no filme, verifica-se a cena icônica em que a personagem faz vários movimentos similares consecutivos -inclusive, ao se alimentar, projeta os mesmos movimentos sobre o seu prato de refeição.

No contexto de hierarquização e polarização das classes sociais, a explanação apresentada é embasada pelo trabalho intensamente repetitivo (Chaplin chega a testar uma máquina para evitar o intervalo referente ao almoço) e pela redução da condição humana do trabalhador à animal; os aspectos insalubres e o trabalho cansativo e mal remunerado nos séculos de Revolução Industrial projetavam o trabalhador manual na órbita do capitalismo, não no centro, marginalizando-lhe pelo sistema e atribuindo-lhe situação de vítima da sociedade burguesa predatória. Apesar da análise configurar, de forma explícita, séculos passados, é notório que tal panorama ainda surte efeito na contemporaneidade: nota-se, ainda, a obsessão pelo lucro, a exploração do homem pelo homem, a mais-valia, etc.

O filme também aborda uma perspectiva de análise social. Os grupos marginalizados que não detém os meios de produção enquadram-se num contexto de fome e de padecimento social, bem como, muitas vezes, de desemprego, como reflexo daquele meio capitalista desumano: evidencia-se, por exemplo, o roubo de alimentos pela jovem para alimentar suas irmãs.

Portanto, depreende-se que Chaplin, metaforicamente, pode ser comparado à classe trabalhadora, intensamente explorada e denegrida em séculos anteriores e menos intensamente subordinada na contemporaneidade. Não obstante, guardadas as devidas restrições, cabe ainda a aplicação da percepção marxista à atualidade.

Luiz Henrique Garbellini Filho
1º ano - Diurno

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