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segunda-feira, 10 de abril de 2023

    Fato Social: O Silêncio dos Professores

    No dia 27 de março ocorreu o ataque que matou a professora Elisabete Tenreiro numa escola pública de São Paulo, pouco mais de uma semana depois houve um outro ataque em uma creche em Blumenau. Esses acontecimentos marcam a consolidação de um fato social, pois embora esse tipo de ataque não seja novo para a sociedade brasileira a frequência com que têm ocorrido tem crescido nos últimos anos, o que impede qualquer tentativa de considerá-los apenas como fatos isolados, mas sim uma nova parte da realidade tal qual é nos Estados Unidos.  

    Desta forma, o fato social emergente nada mais é do que o medo de alunos e professores de que eles possam ser as próximas vítimas e uma paranoia de quem será o próximo perpetuador. Consequentemente, a solidariedade mecânica de Durkheim faz com que a sociedade exija uma reação, seja para impedir que se repita seja para punir mais firmemente os violadores. Assim surgem ideias de reduzir a maioridade penal, policiar as escolas, instalar de detectores de metal,  etc, mas sem considerar as causas, o porquê de isso estar ocorrendo, tenta-se tratar somente os sintomas, o que historicamente já foi provado como inútil ou como agravador da situação. 

    Observando essa situação, a teoria de Grada Kilomba faz ainda mais sentido, pois da mesma forma que pessoas marginalizadas foram deixadas de lado na construção do saber científico e da “consciência coletiva”, as vítimas desses ataques não são ouvidas na hora da criação de políticas efetivas que impeçam repetições desses ocorridos. Os professores, os que mais conhecem as necessidades de seus alunos, a maioria dos atacantes, e que tem o devido preparo para entendê-los, não são ouvidos na tomada de decisões. Portanto, silencia-se uma voz que poderia fazer total diferença na prevenção desses atentados, como outros saberes, que não o branco-europeu, poderiam agregar enormemente à Ciência. 

    Nesse sentido, a sociedade deveria se preocupar com o que motiva esses agressores a cometerem esses atos tão repugnantes, não se contentado apenas com um punitivismo penal ou com a escalada do clima de perigo nas escolas. Esses locais de ensino devem sim ser mudados, mas de uma forma que se aproxima do desejado para o bom desenvolvimento dos jovens e não uma simples resposta a violência. Deve-se ouvir as vozes das vítimas, e embora a professora Elisabete não esteja mais aqui, muitos de seus pares estão e prontos para tornar o ambiente escolar melhor a fim de evitar que esse fato social se consolide de vez em nosso país. 


Daniel Anuatti Reis - 1º ano de Direito (matutino)

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