Em uma terça-feira, durante o período noturno os alunos da universidade
começam a adentrar o campus para mais um dia normal de aula, entretanto nem
todos esperavam que aquele dia fosse mais excepcional que o comum. Um jovem
estudante, militante do movimento negro encontra-se indagado após uma pergunta
de seu professor:
-- Meus caros alunos, para vocês, o racismo faz parte da estrutura
social brasileira?
Mais que rapidamente, o jovem interessado pelo debate é o primeiro a
levantar sua mão para responder:
-- Professor, preconceito racial com certeza faz parte da estrutura social
brasileira, esse que persiste enraizado à escravidão. Diante desse fato,
aproximar as realidades de negros e brancos continua sendo um
enorme desafio
-- Mas como você chegou a essas conclusões?
-- De experiências já relatadas. Pode-se encontrar na sociedade uma
grande influencia do que é denominado por Bacon de ‘’ídolos’’, na qual se podem
ressaltar pessoas que agem a partir do que é denominado por ‘’ídolos da
caverna’’, esses que distorcem as relações pessoais por crenças de seus
pensamentos serem únicos e absolutos.
O debate prosseguiu e no decorrer da aula foram expostas tirinhas do Alexandre
Beck que expunham como ocorrem as relações em uma sociedade escravocrata. Nesse
mesmo momento esse aluno tão empenhado expõe mais algumas idéias relacionadas a
isso:
-- Quando o
racismo e marginalização da população negra atingem até mesmo a inocência
infantil, vê-se a descriminação racial intrínseca no cotidiano brasileiro.
O professor
para finalizar a aula, mostrou mais uma interpretação sobre isso, dizendo que a
partir da Tirinha do Armandinho, podia ser observada nitidamente essa ideia,
uma vez que uma mera corrida entre duas crianças torna-se em uma situação
constrangedora e de aflição, criada a partir da visão escravocrata brasileira. E
que Além disso, o cunho escravista persistente em nossa sociedade é visto no
âmbito de posses, logo que até mesmo o simples ato de estar sob posse de uma
bicicleta gera uma desconfiança, o que é erroneamente construído na sociedade
brasileira pelo que é denominado por Bacon de ‘’Antecipação da mente’’, desse modo
muitas vezes isso gera uma desconfiança simplesmente pela cor da pele da pessoa.
A aula
terminou e esse aluno guardou seus materiais, colocou o notebook na mochila e
foi embora com os seus amigos. Já era quase meia noite, quando estavam chegando
perto de casa e foram enquadrados por uma viatura. Todos os seus amigos por serem
brancos foram liberados de prontidão, enquanto ele permaneceu com os policias
que questionavam incessantemente o fato dele estar até aquela hora na rua em
com um notebook na mochila. Esse aluno extremamente constrangido foi liberado
algum tempo, depois de ter comprovado que o aparelho era seu, após ouvir
ofensas.
Ele chegou a
sua casa, chorando e sua mãe perguntou qual era o motivo de estar assim, foi no
momento que ele respondeu:
-- Mãe, eu
sabia que o racismo existia, mas nunca tinha sofrido isso de uma forma tão
violenta.
João Henrique Parreira - 1° ano -Direito Noturno
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