Na perspectiva de René Descartes sobre o estabelecimento de um
método científico, julga-se elementar a suspensão do juízo. Partindo dela, a
dúvida instituída abre espaço para o estudo de um amplo cenário, permitindo que a especificidade em cada determinada parte do objeto estudado, quando unidas, traga a acuidade no processo e por fim, torne o desvio de falhas pequeno. Contudo, como afirma o filósofo britânico Francis Bacon, essencial como a dúvida e experimentação no método científico é a ausência de ídolos, ou seja, falsas noções de mundo, sem embasamento real. Quando contemplados em meio ao
método sua presença interfere diretamente no resultando, inutilizando-o completamente pois já não são mais neutros.
Analisando as duas tirinhas inseridas abaixo, é perceptível a falta de um método científico, não só no âmbito acadêmico, mas principalmente na formação pessoal. Ao precisar andar com nota fiscal da bicicleta e ter cautela ao correr Camilo exemplifica uma triste realidade vivida por muitos no Brasil, uma miopia social que enxerga a pessoa negra estereotipada, fadada ao crime e miséria. Dinho não teve a experiência de sofrer com essas taxações e desconhece portanto a difícil vivência negra no país, não se preocupando com tais ações. A presença de discursos de cunho preconceituoso, sejam eles racistas, machistas ou homofóbicos, em meio a expansiva evolução tecnológica e informacional vivida, são o reflexo da sociedade líquida da contemporaneidade, que não busca a dúvida. A reprodução dessas falas infundadas, isentas de experimentos, ratificam a ideia de que, é necessário ausentar-se do "eu pessoal" para atingir o conhecimento real e científico.
Direito XXXVI (noturno)
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