No Brasil, dois países: para negros, assassinatos crescem
23%. Para brancos, caem 6,8%!
Descartes, em sua obra "O discurso do Método",
observa que, apesar de todos os homens acreditarem ser providos de "bom
senso" (o qual é distribuído na mesma medida em todos), a ponto de não
desejarem obter mais do que já têm, há vários "erros" na sociedade.
Tais erros ocorrem, por exemplo, ao não se questionar conhecimentos fornecidos
pela tradição (não se questionar um ensinamento fornecido pela própria família,
como, por exemplo, algumas raças são melhores que outras).
Francis Bacon, em sua obra "Novum Organum", de
forma semelhante a Descartes, também afirma que o homem pode formar concepções
errôneas da realidade devidos aos "ídolos", distratores da mente
humana.
Um desses "erros" é exposto nas tirinhas de
Alexandre Beck, que demonstra, em uma tira, o tratamento diferente que Camilo
(afrodescendente) sofre em relação ao seu amigo, Armandinho (de raça branca),
quando, confrontados por um policial, chega a ter que mostrar à autoridade uma
nota fiscal (um documento que porta regularmente ,da mesma forma que qualquer
um porta seu RG no dia a dia) que comprova a
posse de sua bicicleta, de forma muito análoga à que a população negra
da África do Sul devia fazer durante o apartheid (era um passe cuja
apresentação era obrigatória para se ter acesso a certas partes das cidades; se
não fosse apresentado, agressões, por parte da polícia, eram frequentes). Além
disso, em outra tira, Camilo se sente intimidado em se aproximar de um
policial, pois tem medo do que pode acontecer. Tal fato pode ser, também,
constatado em vários estudos, como o que foi feito pela Universidade Candido
Mendes, em 2001, e que foi publicada na Folha de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1204200129.htm), bem como em
vários outros.
O racismo, no Brasil, teve origem quando se trouxe escravos
negros (vindos da África) para trabalhar nas culturas de cana de açúcar,
durante o período colonial. A partir dessa época, passaram a ser considerados
um raça inferior pela população branca. Mesmo quando o trabalho escravo foi
abolido, continuaram a ser tratados como inferiores e ter traços de sua cultura
vistos com maus olhos, pois nenhum projeto de inserção social foi feito para
essa população marginalizada, sendo, portanto, um processo de abolição falso.
O resultado: mesmo hoje com igualdade perante a lei, os
negros (em especial os de classe menos favorecida), ainda não se igualam aos
brancos em vários aspectos da vida social (educação etc.). No tocante à
segurança, o número de homicídios entre a população negra vem aumentando nos últimos
10 anos, enquanto o número de homicídios entre os brancos caíram no mesmo
período de tempo. Em 2016, cerca de 71,5% do número de indivíduos assassinados
no país forma negros. Isso se explica pelo fato de os negros (principalmente os
mais jovens) serem muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não
negros. Soma-se a isso o fato de eles serem
as principais vítimas da ação letal das polícias (veja a reportagem em
https://www.brasildefato.com.br/2018/05/21/raca-e-idade-determinam-uso-da-forca-letal-pelas-policias/)
e o perfil predominante da população prisional do Brasil.
Interessante, mas também trágico, é observar que, mesmo com
todo progresso técnico-científico conquistado pela humanidade, a qual foi capaz
de curar e prevenir doenças, explorar ambientes fora do globo terrestre, etc.,
ainda perduram questões como racismo (que tem uma fundamentação ilógica) na
sociedade, o que se relaciona com as ideias de Descartes e Bacon quanto à
tendência de o homem adotar, como verdadeiras (sem uma reflexão profunda), algumas concepções criadas, por exemplo, por
uma elite dominante para manter-se no poder (caso da escravidão no Brasil).
Baseado em todos esses fatos, concluo que os negros não tem
alguns direitos básicos garantidos (segurança, etc.), apesar de na Constituição
de 88 citar a promoção do bem de todos "sem preconceitos de origem, raça,
cor, idade, sexo e quaisquer outras formas de discriminação". Isso ocorreu
devido a toda estigmatização que a raça negra vem sofrendo desde o período colonial
e que "contaminou" a mente dos brasileiros até os dias de hoje.
Entretando, essa situação pode ser resolvida, se o método de educação da mente
humana, proposta por Descartes, for aplicado no cotidiano - o que contribuíra
com a quebra do racismo, pois como ele próprio disse:
"Basta ajuizar bem para bem fazer, e julgar o melhor
que nos seja possível para fazermos também o nosso melhor".
Aliado a essa prática, aplicar o método proposto por Bacon,
certamente, iria contribuir para a extirpação dos "ídolos", os quais
impedem o progresso da razão humana, pois segundo o aforismo XVIII:
"Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto
humano e nele se acham
implantados não somente o obstruem a ponto de ser difícil o
acesso da verdade,
como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerrado,
poderão ressurgir
como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser
que os homens, já
precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam."
Allan 1 ano Direito noturno
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