Francis Bacon e René
Descartes lançaram as bases epistemológicas da ciência moderna. Através da proposição de uma metodologia para balizar a ciência, ambos modificaram
a maneira de pensar, interpretar fenômenos e, sobretudo, produzir conhecimento. Sendo a metodologia de
Descartes mais racional, e a de Bacon mais empirista.
O racionalismo e o positivismo
utilizaram as bases teóricas de ambos os pensadores, a priori os dois
movimentos deixariam Bacon e Descartes orgulhosos. Na primeira década do século
XX a sensação de progresso se alastrava pelo mundo, o telos era o pleno
desenvolvimento que viria de modo natural. Porém a teleologia do positivismo e
do racionalismo, foi triturada pelas duas grandes guerras mundiais.
Onde toda a racionalidade e ciência fundamentada pelas matrizes positivistas foram
utilizadas para matar, e não da maneira simples e antiquada, matar, agora, exige
um método, um esforço, há uma ciência da morte, que tem por objetivo a morte, e por
método a maneira mais simples e menos traumática para executor. Os campos de
concentração foram construídos e instrumentalizados pelos maiores cientistas da
época, a ciência foi utilizada para matar.
Após o choque causado por
milhares de mortes, o homem moderno perdeu o ponto de orientação, ficou à
deriva, não olhou para mais para o telos, para o futuro promissor, fechou-se
nele mesmo e ficou cada vez mais individualista. Sendo assim, não foi realizado um acerto de
contas da sociedade em geral, com o passado brutal da Segunda Guerra Mundial. Considerar
o genocídio promovido durante a Segunda Guerra como um fato excepcional, de
exceção, é tornar quase impossível o combate e prevenção de fenômenos igualmente
lesivos.
A tirinha mostra o
racismo e suas consequências mais leves na sociedade brasileira, não aborda o que os estudiosos chamam
de genocídio da população negra. Para combater o racismo estrutural na
sociedade brasileira é necessário, assim como na Segunda Guerra, aceitar que
não é um fenômeno de exceção, reconhecer sua existência estrutural e conscientizar a sociedade
brasileira sobre o passado escravagista brasileiro e suas consequências atuais. Afinal, como disse Saflate:
“Quando você não acerta as contas com o passado, o passado acerta as contas com
você”. Resta saber se o "racionalismo puro" e o "tecnicismo puro" que matam de maneira "legal" e "racional" milhares de pessoas negras por ano triunfarão ou se o respeito a diversidade e ao passado finalmente encampará na sociedade brasileira e cessará com o racismo estrutural e genocídio da população negra.
Ricardo da Silva Soares-1°Direito Noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário