Nas
representações de Alexandre Beck, à criança branca não era evidente a
necessidade de carregar sempre notas fiscais que lhe certificasse a posse. Para ela também não fazia sentido que “apostar corrida” poderia ser algo arriscado.
As coisas não eram claras a ela. Como concordaria Descartes, que a razão é
igual em todos os homens, mas em concepções baconianas, cada cova a qual molda
a luz que chega aos olhos humanos, é diferente- as personagens eram dotadas da
mesma razão, mas haviam exigências diferentes.
A
discriminação racial, o estado de estar sob constante suspeita e a violência
policial, aspectos evidenciados nas tirinhas, compõem a realidade de uma
população bem especifica, a população negra, brasileira ou não. Uma vez padecidos
estes aspectos, o entendimento formado por uma personagem negra e seu
comportamento, consequentemente, adquirem traços divergentes dos adquiridos por
uma pessoa branca. As diversas experiências e o racismo institucionalizado, geram noções de realidades desconformes.
Aquilo que repercute uma incongruência aos entes brancos, é
ordinário ao cotidiano negro, mutuamente- “a História aprendida na escola é a
história do meu povo” é uma sentença que não pode ser exclamada por quaisquer-
reforçando as questões empíricas como cambiante havendo prismas diferentes.
Porém, a normatização que existe acerca desta realidade desigual é inconcebível.
A discriminação racial não se trata apenas sobre realidades diferentes, atinge
proporções maiores do que uma discussão sobre pluralidade, uma vez que
fundamenta danos morais, à saúde física e mental de quem convive diariamente
com.
Mesmo
que a Constituição Federal de 1988, garanta
os Direitos e Garantias Fundamentais tais
como o direito à vida e à liberdade, a criança negra da ilustração não teve a
liberdade para brincar de apostar corrida, reprimida presença policial – e a
situação assume uma perspectiva mais truculenta quando há casos como o de Pedro Henrique Gonzaga, que pela cor não teve direito
a liberdade e nem mesmo a vida. São demasiados os indícios de que os direitos
são aplicados obedecendo uma jurisdição de cor.
Uma
sociedade tão refém de seus ídolos da caverna e do teatro- que toma conceitos
individuais como coletivo e regulariza filosofias infundadas-, nunca poderá ser
a mínimo justa. Em seu livro “Novum Organum”, o filosofo Francis Bacon, assume
que formação de noções pela indução
é o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos, mas quando o racismo é
normatizado e não reconhecido como, tanto o empirismo baconiano quanto o
racionalismo cartesiano são ignorados e são repetidas todas as mesmas
inumanidades e injustiças dos séculos passados.
Amanda Cristina da Silva - 1º Ano Direito Noturno
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