Como ervas daninhas, os pensamentos se alastram e infestam a mente de cada indivíduo de forma rápida e vigorosa. O labor mental é inerente à existência humana e, portanto, difícil de ser combatido e poucas vezes negado.
Na sociedade atual, alicerçada em valores pouco sólidos, frutos de um senso comum milenar nunca, de maneira geral, contestado, o labor da mente humana encontra terreno fértil para sua proliferação como instrumento de se produzir conhecimento, de se fazer ciência. Porém, divagações intelectuais, submersas em emaranhados de pensamentos pouco profundos, tornam a tarefa de “conhecer”, de edificar conhecimentos, uma tarefa árdua, que beira a impossibilidade, visto que a racionalidade, concisa, apenas se é alcançada, segundo o filósofo René Descartes, em seu livro “Discurso do método”, pela superação de valores e convicções individuais, em prol do encontro pleno da verdade, da vontade do mundo, algo incompatível com a alta dose de paixões/influências na qual se submete a mente pouco reflexiva, que age por si só. A superação de paixões é dificultada, sobretudo nos dias de hoje, em que vive-se uma polarização ideológica, pois, à medida que extremiza visões, facilita-se a influência de ídolos, assim chamados por Francis Bacon, tendo em vista que o extremismo necessita, para florescer, da perda do pensamento crítico e a derrocada da irracionalidade, que por sua vez, alimentará a perpetuação do senso comum, que dará espaço ao crescimento, progressivamente, de idéias cada vez mais extremas, irracionais, porém de alto potencial de brotamento no íntimo humano, por se tratar de algo que se relaciona a emoções, retroalimentando o ciclo de construção de falsa ciência.
O racismo e os preconceitos em geral, bastante frequentes na atualidade, são, de fato, frutos da irracionalidade humana, do labor da mente, da não negação de convicções que, apesar de ultrapassadas e pouco firmes teóricamente, estão enraizadas no plano social por terem sido cultivadas por séculos sem serem postas a prova, sem que se esteja presente a dúvida, a contestação, que, para Descartes, é essencial para se fazer ciência e se construir pensamento crítico, racional.
Além do mais, a medida que se “pensa” sem o intuito de se melhorar a humanidade, em prol da evolução humana, nega-se a finalidade, para Bacon, empirista, e Descartes, racionalista, da produção de conhecimento, que deveria ser voltada para esse propósito, pois, apesar de divergirem quanto aos seus métodos científicos, entram em consenso quanto o porquê de se pensar. Tipifica-se o racismo como algo improdutivo, não engrandecedor para a humanidade, não emancipatório e/ou esclarecedor, portanto, não pode ser considerado racional, tão menos correto, destruindo a percepção de que haja fundamento em discriminar o próximo pela simples vontade, pelo simples anseio absurdo de um coletivo guiado por ídolos baconianos.
Portanto, para que se vença a falsa ciência, incluso o racismo, é necessário que se conteste o “status quo” e se negue a pseudo-razão, pois, como ervas daninhas, estas, florescem com facilidade, mas com os métodos corretos, podem ser dizimados para que seja semeada a razão pura, não ligada a filosofia tradicional, mas à luz de Francis Bacon e René Descartes, que, apesar de terem vivido há séculos, se mostram muito pertinentes perante os assuntos atuais.
Octavio Deiroz Neto - 1º ano direito noturno
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