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domingo, 7 de abril de 2013

O Mito do Progresso


A corrente positivista principiada por Augusto Comte influiu e ainda influi de diversos modos na política contemporânea, além de possuir papel fundamental na história do Brasil, principalmente no que diz respeito à Proclamação da República.  
A ideologia em questão é duramente criticada devido ao seu caráter conservador já que explicita o fato de qualquer alteração no Estado vigente elucidar uma ameaça à Ordem, sendo esta fundamental para que exista o Progresso, objetivo final do Positivismo.
Entretanto, faz-se fundamental a análise do positivismo empregando uma análise crítica sobre o conceito de progresso e suas implicações. Convém, portanto, citar Gilberto Dupas – escritor e cientista social – e suas reflexões na obra “O Mito do Progresso”.
Augusto Comte afirma que para que haja o progresso deve, portanto, existir e manter a ordem, sendo assim não deve haver alteração de “locus social” entre os indivíduos, ou seja, a função do homem na sociedade é inata estando este ou entre os que pensam ou entre os que trabalham os as mãos não havendo a possibilidade de alternância na ocupação dos “locus”. Tal formulação mostra-se, portanto, passível de sério questionamento que é efetuado de forma atual e contextualizada pelas palavras seguintes de Dupas.
“Mas esse progresso, discurso dominante das elites globais, traz também consigo exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento e graves danos ambientais, agredindo e restringindo direitos humanos essenciais” DUPAS, Gilberto. O Mito do Progresso. Novos Estudos, 2007.       
O cientista social supracitado faz questionamento de suma importância, afinal o sistema social estático pregado pelo positivismo com objetivo de atingir o progresso dá margem à indagação de “para quem é o progresso atingido ao manter-se a ordem?”. Vê-se, nitidamente, que a maior parcela do progresso acaba por beneficiar, exatamente, “aqueles que pensam”. O ônus aqueles que fazem parte da camada rasa da sociedade é imenso, afinal estes não podem desfrutar de forma proveitosa dos benefícios do progresso, não lhes é permitido evoluir para a camada social privilegiada e, acima de tudo, o trabalho desempenhado por eles é mais cansativo e menos remunerado.
Conclui-se que o pensamento positivo pode ser, nada mais, do que um artifício utilizado pela Ordem vigente para que esta, além de se manter, possa ainda direcionar os rumos do progresso e desfrutar dele enquanto a parte desprivilegiada da sociedade – a maior parte – sofre com a incapacidade de ascensão e, ainda sim, constitui os braços que promovem o progresso e carregam, em seus ombros, uma elite.
No âmbito contemporâneo cabe dizer, além do já dito sobre a imensa incoerência do sistema, que o progresso, de acordo com o prisma que é analisado, pode ser considerado nulo. Afinal, criou-se mais tecnologia, em contrapartida, o planeta sofreu exacerbados golpes de destruição, temos mais tecnologia, todavia esta foi usada para a construção de armas que, hoje, podem destruir a própria raça humana. Seria isto um progresso?
É possível sim que o positivismo seja, acima de tudo, maléfico. Por ser uma arma das elites, por não conseguir conter as implicações de seu “progresso”, por ferir o próprio homem ao tentar construir a ordem. Introito com Dupas, fim com Dupas. 
 “Seria uma insensatez negar os benefícios que a vertiginosa evolução das tecnologias propiciou ao ser humano no deslocar-se mais rápido, viver mais tempo, comunicar-se instantaneamente e outras proezas que tais. Trata-se aqui de analisar a quem dominantemente esse progresso serve e quais os riscos e custos de natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie que ele está provocando; e que catástrofes futuras ele pode ocasionar. Mas, principalmente, é preciso determinar quem escolhe a direção desse progresso e com que objetivos.” DUPAS, Gilberto. O Mito do Progresso. Novos Estudos, 2007.    

Lucas Oliveira Faria - Direito Noturno 


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