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domingo, 16 de setembro de 2012

28/08/2012




                                          Ode à conotação.
                        Louvemos a subjetividade e o bom poeta. 
                                 Esse que diz algo de um tudo:




Romaria
Os romeiros sobem a ladeira
cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho
Os sinos tocam, chamam os romeiros
Vinde lavar vossos pecados
Já estamos, puro, sino, obrigados
Mas trazemos flores, prendas e rezas
No alto do morro chega a procissão
Um leproso de opa empunha o estandarte
as coxas das romeiras brincam no vento
Os homens cantam, cantam sem parar
Jesus no lenho expira magoado
Faz tanto calor, há tanto algazarra
Nos olhos do santo há sangue que escorre
Ninguém não percebe, o dia é de festa
No adro da igreja há pinga, café
imagens, fenômenos, baralhos, ciganos
e um sol imenso que lambuza de ouro
o pó das feridas e o pó das muletas
Meu Bom Jesus que tudo podes,
humildemente te peço uma graça
Sarai-me, Senhor, e não desta lepra,
do amor que eu tenho e que ninguém me tem
Senhor, meu amo, dai-me dinheiro
muito dinheiro, para eu comprar
aquilo que é caro mas é gostoso
e que na minha terra ninguém possui
Jesus meu Deus pregado na Cruz,
me dá coragem pra eu matar
um que me amola de dia e de noite
e diz gracinhas a minha mulher
Jesus, Jesus piedade de mim
Ladrão eu sou mas não sou ruim não
Por que me perseguem não posso dizer
não quero ser preso, Jesus ó meu santo
Os romeiros pedem com os olhos
pedem com a boca, pedem com as mãos
Jesus, já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade

                 Carlos Drummond de Andrade



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