A vingança é um tema recorrente nos livros, filmes, séries e
novelas de sucesso desde que se tem conhecimento destas mídias. Mas
porque há tamanho êxito nestas histórias que envolvem a vingança (que geralmente
está ligada a tragédias) se o trágico geralmente é repreendido e afastado pelos
instintos humanos?
Parece haver, se não um incentivo, ao menos uma complacência
à atitude de vingança, de fazer com que o outro sofra o que é sofrido por nós.
Este sentimento não é atual, como prova o primeiro código de leis de que se tem
notícia, o Código de Hamurabi. Já na antiga Mesopotâmia, o Código ditava o
princípio do “olho por olho, dente por dente” em artigos como o 127 : “Se alguém "apontar o dedo"
(enganar) a irmã de um deus ou a esposa de outro alguém e não puder provar o
que disse, esta pessoa deve ser levada frente aos juízes e sua sobrancelha
deverá ser marcada”.
Tais fatos levam-nos a crer que o sentimento de vingança está
intrínseco à natureza humana, fazendo parte da solidariedade mecânica, diria
Durkheim. Já pensando na solidariedade orgânica da sociedade moderna, atualmente, a vingança é, de certa forma, buscada através do
sistema judiciário.
Se uma pessoa mata a outra, não é a família da vítima quem
deve processar criminalmente o assassino, mas sim o Ministério Público. Cabe ao
Estado investigar, julgar e punir aquele que causa dano ao próximo, não é mais
função da vítima e seus familiares fazer justiça com as próprias mão.
O sistema judiciário, entretanto, não é perfeito, muito pelo
contrário, ele é um sistema falível. Caso a polícia não consiga encontrar
provas suficientes para condenar um suspeito de um crime, por exemplo, tal suspeito pode
sair impune dos crimes cometidos. Nesses casos nos deparamos com a questão “Alguma
justiça é melhor do que nenhuma?”.
Não é raro ocorrer que essa justiça seja feita por de baixo dos panos.
Quantas vezes, assistindo ao noticiário, nos deparamos com notícias do tipo “bandidos
são mortos em confronto com policiais”? Muitas pessoas ficam aliviadas ao
imaginar que, num sistema judiciário e prisional tão falho quanto o brasileiro,
seria melhor que tais bandidos acabem mortos do que circulando novamente nas
ruas em torno de quatro ou cinco anos.
Para que essa realidade se altere, faz-se necessária uma
enorme mudança; mudança de valores em uma sociedade que afirma que “bandido bom
é bandido morto” e mudança de políticas públicas onde a justiça por vezes erra e o sistema prisional é falho praticamente em sua totalidade.
Estas mudanças, entretanto, são interdependentes. É preciso
que a sociedade mude sua forma de pensar para exigir um sistema mais eficiente
e é preciso que o sistema melhore para que a sociedade confie nele e não deseje mais a morte
aos bandidos.
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