Émile Durkheim realizou um estudo aprofundado sobre a
sociedade e sua organização. Em sua obra “A divisão do trabalho social”, o
autor escreve sobre a diferenciação que o Direito sofreu ao longo do desenvolvimento
dos grupos sociais.
Nas organizações primitivas o Direito se constituía
essencialmente como sendo punitivo: a sociedade era responsável pela manutenção
do equilíbrio e da salubridade social, e assim cabia a todos os membros e a
própria sociedade a punição daqueles que fugiam à normalidade ou que rompessem
alguma regra ou ditame imposto pela cultura local.
Já nas organizações modernas, o Direito passou a se
apresentar como restitutivo. A modernidade atribuiu às relações sociais uma
maior complexidade, fazendo com que a sociedade desenvolvesse um aparato
jurídico capaz de sanar as patologias, respeitando a pluralidade e a
complexidade dos grupos sociais modernos.
O filme “Código de Conduta (2009)”, dirigido por Gary Gray, chama
a atenção para uma situação que, embora pareça distante da realidade, é mais
comum do que imaginamos. A história relata a insatisfação de um homem que se
sentiu injustiçado pelo próprio aparelho judiciário estatal quando esperava por
uma punição ao assassino de sua mulher e filha. A trama evidencia o caráter
cartesiano da justiça nos dias atuais, a qual funciona como uma ciência exata
que, contraditoriamente, não inova.
A base do sistema judiciário é a racionalidade, que
fortalece o seu caráter cartesiano e o rigor em relação à normatividade
positiva. O Direito, embora já tenha se apresentado muito estático, está
ganhando operadores adeptos de sua aplicação alternativa: está se mostrando
cada vez mais correspondente com as necessidades reais da sociedade, em suas
diversas faces.
O problema é que não podemos pensar que só porque os avanços
do Direito são muitos, que podemos deixar de nos interessar na defesa
alternativa dos interesses dos cidadãos. Ainda há muito o que melhorar,
principalmente no que diz respeito à defesa das paixões humanas. É preciso
humanizar o Direito, sem perder a racionalidade, que é uma característica
particularmente humana. É preciso defender as paixões sem perder a
racionalidade, para não retrocedermos à época do direito punitivo.
A complexidade da sociedade exige a existência de um grande
conjunto de normas para o seu bom funcionamento (de acordo com o padrão a que
estamos acostumados). É preciso reconhecer sim que o Direito está mudando, mas
também acolher essa mudança e fortificá-la, para sempre buscarmos o justo para
a pessoa humana, afinal a justiça é feita pelos homens, para os homens.
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