A pandemia não foi e não está sendo fácil para ninguém, especialmente para dona Célia e sua família que segue passando por momentos apertados com dívidas, inseguranças e a fome. A pior dor no estômago e aperto no peito de ver suas próprias filhas contorcerem suas barrigas pela mesma situação.
Você se sente inútil. Uma falha como progenitora.
Quando Dona Maria chegou à casa da filha como sempre fazia às quartas-feiras, encontrou suas duas netas sozinhas e solitárias, onde a mais velha, de apenas cinco anos, cuidava da mais nova, de apenas três. “A maiorzinha começou a chorar quando me viu. Ela ficou muito emocionada de encontrar a avó. (...) Elas estavam tão magrinhas, com fome”
A mãe das crianças, Dona Célia, foi pega e presa em flagrante dentro de um estacionamento de um supermercado quando tentava sair dali com dois pedacinhos de carne.
O Brasil é um país que se classifica dentro da linha dos países do Sul, na divisão da linha abissal, justificado pela sua balança comercial ainda frágil e o IDH que segue em pequeno e lento crescimento, mostrado claramente no relatório do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud), da ONU, onde o Brasil perdeu cinco posições no ranking mundial, caindo de 79° para 84° entre 189 países, mesmo tendo acrescido alguns centésimos em sua pontuação.
Tais dados estão diretamente ligados à realidade brasileira da fome, pobreza, violência e instabilidade. Todas pioradas no decorrer da pandemia e a falta de ações governamentais que auxiliem com um foco maior na carência que é tão escancarada em situações como a de Dona Célia e sua família.
Além de exposta no noticiário, as problemáticas são visíveis nas ruas, nas grandes cidades, periferias e até no âmbito mundial, mesmo que países do Norte finjam cegueira para tais, voltando a se importar no momento da exploração e do enriquecimento próprio às custas de países do Sul como o nosso, porque o Norte é quem domina as epistemologias globais. Ele é quem dita o caminho, o sucesso, a evolução.
Vem daí, segundo o professor Boaventura de Sousa Santos, "a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades", para que sabe algum dia renovarmos os termos Norte e Sul como diferentes, porém, igualitários.
* adaptado de histórias do artigo: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57477601
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