Semelhança puramente fonética
Raízes, tronco, folhas. A fim de descrever uma árvore, um cartesiano
simplesmente a dissecaria. Já um pensador de sistemas atentar-se-ia às relações
entre o vegetal e o restante da natureza, buscando seu real papel biológico,
sua importância no todo. Essa é apenas uma das reflexões realizadas pelos
personagens Sonia, Thomas e Jake no filme “Mindwalk” – Ponto de Mutação (Bernt
Capra, 1989).
Sonia é pontual ao criticar Descartes, Bacon e Newton. A visão
mecanicista cartesiana contemplava o homem como uma simples máquina. Francis
Bacon afirmava que “Saber é poder” e a interpretação humana da natureza
sobreporia o homem ao meio ambiente. Logo, relacionando com a opinião
mecanicista cartesiana, para Bacon a máquina humana subjugaria a máquina
ambiental. A ciência newtoniana tornou esse pensamento um fato consumado. Ao
conhecer e estudar os mecanismos naturais, analisar suas ações, suas consequências
podem ser previstas através de fórmulas. Consequentemente, esse caráter
previsível assemelha ainda mais a natureza à uma máquina.
Contudo, expondo seu denso conhecimento físico, Sonia destaca a não
aplicabilidade da física newtoniana na escala atômica. A matéria não está
baseada apenas em objetos, e sim em conexões. A beleza da dinâmica evolutiva
não é a adaptação, e sim a criatividade. E nós, como alunos do curso de
Direito, portanto, potenciais juristas, necessitamos absorver essa reflexão. É
necessário criatividade. É necessário desvencilhar da visão mecanicista e
interpretar os futuros casos jurídicos como parte de um contexto maior.
"A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais
e desigualmente os desiguais a medida em que se desigualem”. Um jurista eficaz
não limita-se ao conhecimento de leis. “O jurista que só conhece Direito acaba
por ter do próprio Direito uma visão defeituosa e fragmentada.” Faz-se
necessário uma ampla visão de mundo a fim de julgar corretamente a
especificidade de cada caso. Analogamente à árvore, o crime não deve ser
simplesmente dissecado, e sim analisado em toda sua conjuntura. Essa é a chave
para libertar o Direito do clichê “instrumento de dominação de classe”. Jurista
e mecanicista podem assemelhar apenas no âmbito fonético, e não semântico.
Daniele Zilioti de Sousa - 1º ano Direito Noturno
Daniele Zilioti de Sousa - 1º ano Direito Noturno
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