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segunda-feira, 25 de março de 2013

           Semelhança puramente fonética



Raízes, tronco, folhas. A fim de descrever uma árvore, um cartesiano simplesmente a dissecaria. Já um pensador de sistemas atentar-se-ia às relações entre o vegetal e o restante da natureza, buscando seu real papel biológico, sua importância no todo. Essa é apenas uma das reflexões realizadas pelos personagens Sonia, Thomas e Jake no filme “Mindwalk” – Ponto de Mutação (Bernt Capra, 1989).
Sonia é pontual ao criticar Descartes, Bacon e Newton. A visão mecanicista cartesiana contemplava o homem como uma simples máquina. Francis Bacon afirmava que “Saber é poder” e a interpretação humana da natureza sobreporia o homem ao meio ambiente. Logo, relacionando com a opinião mecanicista cartesiana, para Bacon a máquina humana subjugaria a máquina ambiental. A ciência newtoniana tornou esse pensamento um fato consumado. Ao conhecer e estudar os mecanismos naturais, analisar suas ações, suas consequências podem ser previstas através de fórmulas. Consequentemente, esse caráter previsível assemelha ainda mais a natureza à uma máquina.
Contudo, expondo seu denso conhecimento físico, Sonia destaca a não aplicabilidade da física newtoniana na escala atômica. A matéria não está baseada apenas em objetos, e sim em conexões. A beleza da dinâmica evolutiva não é a adaptação, e sim a criatividade. E nós, como alunos do curso de Direito, portanto, potenciais juristas, necessitamos absorver essa reflexão. É necessário criatividade. É necessário desvencilhar da visão mecanicista e interpretar os futuros casos jurídicos como parte de um contexto maior.
"A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais a medida em que se desigualem”. Um jurista eficaz não limita-se ao conhecimento de leis. “O jurista que só conhece Direito acaba por ter do próprio Direito uma visão defeituosa e fragmentada.” Faz-se necessário uma ampla visão de mundo a fim de julgar corretamente a especificidade de cada caso. Analogamente à árvore, o crime não deve ser simplesmente dissecado, e sim analisado em toda sua conjuntura. Essa é a chave para libertar o Direito do clichê “instrumento de dominação de classe”. Jurista e mecanicista podem assemelhar apenas no âmbito fonético, e não semântico.

Daniele Zilioti de Sousa - 1º ano Direito Noturno

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