Noivas a caminho do Oriente
“Nossa querida Kadiza e
as duas amigas acompanhando você. Nós, juntos, sinceramente rezamos e esperamos
que esta mensagem chegue até vocês. Nós oramos para que nenhum mal aconteça a
vocês, e que vocês estejam em segurança e com boa saúde (...). Em sua ausência,
nós, como uma família, estamos nos sentindo completamente angustiados e sem
entender por que você fugiu de casa” (tradução livre)².
O caso das três meninas de 15 e 16 anos que partiram de Londres em fevereiro
de 2015 em direção à Síria, para se juntarem ao movimento extremista do Estado
Islâmico (EI), é mais um dos tantos outros que têm ocorrido ao redor do mundo
recentemente e têm deixado perplexos famílias, estudiosos e governantes. ‘Noivas
do Jihad’ é como os tablóides britânicos denominam as mulheres que partem rumo
ao Oriente Médio com o ideal de se casarem com os soldados e participarem da
luta armada.
Assim como as três dedicadas estudantes de Londres, estima-se que 12
mil indivíduos, de 50 países, deixaram seus lares em lugares desenvolvidos como
Reino Unido, Estados Unidos e Austrália, para lutar ao lado de grupos
extremistas na Síria, é o que aponta o jornal The Guardian sobre dados do Departamento de Estado dos Estados
Unidos³. Para Charlie Winter, pesquisador do grupo contraterrorista Quilliam
Foundation, o recrutamento de pessoas decorre, em parte, da propaganda
ostensiva do grupo EI, mas também da desconexão e do senso de inadequação que
os recrutas em potencial sentem no país em que vivem. Perguntado sobre a
diferença de comportamento entre alguns recrutas que aceitam seu papel no EI e
outros que se arrependem e fogem de volta a seus países de origem, ele afirma
que não há um perfil definido da pessoa que se junta ao EI, e sim uma variedade
de pessoas, que fazem isso por motivos diferentes¹.
Parece ficar claro que uma compreensão mais profunda desse fenômeno
social requer uma análise que vá além da perspectiva estrutural ou histórico-econômica
da sociedade de origem dos indivíduos, alcançando o ser humano em si. Afinal,
são pessoas provenientes dos mais diversos países e de diferentes núcleos
familiares que deixam tudo para trás, rumando ao desconhecido, munidos apenas do
seu ideal. Em uma perspectiva sociológica weberiana, tais ações seriam racionais,
engendradas por valores próprios dos indivíduos. Tais valores, por sua vez,
seriam influenciados por diversos fatores, e em diferentes medidas conforme o
indivíduo, dentre eles a religião, a cultura, as relações sociais e a
propaganda extremista.
Todavia, prever quais indivíduos escolherão esse caminho futuro não é
tarefa simples. Os comportamentos em questão fogem à lógica padrão esperada
daqueles que vivem em democracias ocidentais. Em termos da metodologia de
Weber, equivaleria dizer que os fatos concretos apontam uma realidade bastante
diferente do modelo hipotético (tipo ideal) construído com base nas prováveis ações
racionais dos cidadãos de regimes democráticos. A “irracionalidade” parece
desafiar a capacidade das autoridades de conter o fenômeno. O primeiro-ministro
britânico, David Cameron, anunciou que planeja aumentar a revista em aeroportos
e convocou as escolas para auxiliarem na identificação dos estudantes em risco
de serem cooptados. Por outro lado, a ex-ministra Sayeeda Warsi, primeira
muçulmana a integrar o governo britânico, alertou para o papel da internet na
radicalização dos jovens muçulmanos e lembrou que “não se faz um terrorista em
um dia”4.
Fernando –
1º Ano Direito Noturno (texto sobre Compreensão sociológica - Weber)
Referências:
1. Notícias
UOL. Desconexão com o próprio país motiva fuga para o EI, diz especialista.
Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2015/03/25/desconexao-com-o-proprio-pais-motiva-fuga-para-o-ei-diz-especialista.htm> . Acesso em: 08 ago. 2015.
2.
The
Telegraph. Parents of three runaway British ‘jihadi’ brides beg them to come
home. Disponível em:
<http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/islamic-state/11427093/Parents-of-three-runaway-British-jihadi-brides-beg-them-to-come-home.html> . Acesso em: 08 ago.
2015.
3. Exame.
Por que jovens ocidentais estão lutando pelo Estado Islâmico. Disponível em:
< http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/por-que-jovens-ocidentais-estao-lutando-pelo-estado-islamico#2> . Acesso em: 08 ago. 2015.
4. O
Globo. Adolescentes britânicas já cruzaram fronteira da Síria para se juntar ao
Estado Islâmico. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/mundo/adolescentes-britanicas-ja-cruzaram-fronteira-da-siria-para-se-juntar-ao-estado-islamico-15410732> . Acesso em: 08 ago. 2015.
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