Sutiã: a menor burca do mundo
Max
Weber (1864-1920) é considerado um dos fundadores da sociologia como a
entendemos atualmente. Segundo Gabriel Conh, professor de ciências sociais da
USP, Weber não simpatizava com modos de pensamento que enxergassem a sociedade
como uma espécie de corpo objetivo existente (com um caráter, portanto, quase
corpóreo) em relação a qual os indivíduos fossem dependentes ou apêndices dessa
grande organização.
Ou
seja, para a teoria weberiana o objeto de estudo da sociologia tem como foco
primordial o indivíduo. Os outros aspectos organizacionais da sociedade (como o
Estado, e a Nação) são resultantes da ação social individual de cada ente da
sociedade – esta é uma das grandes disparidades de sua teoria em detrimento da
de Emilé Durkheim.
Em
relação ao individuo, Weber afirma que este é fortemente influenciado pelo
ambiente a qual se encontra, e que “pondera e escolhe, entre os possíveis
valores em questão, aqueles que estão de acordo com sua própria consciência e
sua cosmovisão pessoal”.
Esse
ponto de sua teoria pode ser utilizado na ilustração de várias questões
pulsantes, dada sua grande polemica, da atualidade. Uma dessas questões, por
exemplo, é o uso da burca, (veste que cobre todo o corpo e o rosto, deixando
somente um espaço para a visão) utilizada pela maioria das mulheres do oriente médio.
Esta
vestimenta é entendida pelas mulheres do ocidente (que não a utilizam) grosso
modo, como um instrumento de opressão, pois, revela a dominação masculina sobre
o corpo e modos de conduta femininos.
Esse
entendimento em relação a veste das mulheres do oriente é feita a partir da
utilização de valores ocidentais sobre a questão. Baseando-se nestes valores, e
sem considerar os aspectos próprios da cultura do oriente médio (como a grande
influencia da religião, o costume que impera milenarmente) faz-se um juízo de
valor sobre a utilização da burca.
Este
exercício para a teoria weberiana prejudica a objetividade de uma pesquisa. O
pesquisador deve analisar a questão que se propõe a estudar, a partir dos
valores de seu objeto de estudo. Ou seja, não fazendo um juízo de valores sobre
o mesmo, afirmando que tal aspecto ou comportamento é atrasado, selvagem,
bárbaro e etc.
A
burca pode ser entendida pelas próprias mulheres que a utilizam (e este seria o
exercício proposto por Weber) como um traço marcante de sua cultura, ou uma
característica de sua religião, ou até mesmo como um costume milenar que as
mesmas possuem que as caracterizam, na medida em que, as distinguem de outras
mulheres do globo.
Mas
esse exercício de julgamento de valores também pode ser realizado pelas
mulheres do oriente sobre aspectos da cultura ocidental, por exemplo, a partir
da utilização destas ultimas mulheres de uma roupa intima: o sutiã.
Se
pautado nos valores orientais, o sutiã é um instrumento que tem sua utilização
imposta pelo publico masculino, muitas vezes fazendo com que a mulher seja
constantemente sensualizada e erotizadas.
O
interessante dessa comparação é que tanto o sutiã quanto a burca, se pautados
nos valores orientais e ocidentais, respectivamente, são vistos como algo que
oprime o publico feminino, concepção que na maioria das vezes, não condiz com a
opinião de quem aos utiliza. Faz-se o convite, a partir da teoria de Max Weber,
de possuir um olhar sensível as características e particularidades da cada
sociedade, aspectos ou questão que se analisa. Olhar esse que não é somente
necessário aos pesquisadores científicos, mas para os indivíduos como um todo,
para que ao entrar em contato com pontos característicos de outra cultura, (que
estão presentes em um individuo), não seja feito um juízo de valores que além
de incoerentes, são sobre tudo injustos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário