“Cleonice
– Então essa coisa que faz você se virar tanto deve ser o máximo!
Lisístrata
- É sim, e a salvação da pátria depende do apoio das mulheres à minha
idéia.
Cleonice
– Das mulheres? Fraco apoio...
Lisístrata
– Fique certa de que o destino do país está em nossas mãos. Se falharmos a
pátria estará perdida, será destruída por tantas lutas fratricidas. Mas se
nós, as mulheres, nos unirmos, as mulheres de todos os rincões da Grécia, o
país estará salvo.”
Lisístrata,
Aristófanes.
A comédia grega Lisístrata de Aristófanes
foi escrita em 411 a.C.. Nela, com a intenção de acabar com a guerra entre as
cidades Estado, as mulheres se propõem a fazer uma greve de sexo e assim
convencer os homens a dar fim ao conflito.
Embora caracterizada por ser uma comédia e
ter passagens que levem ao riso, Lisístrata possui uma enorme crítica social à
guerra e também esclarecedora quanto a condição da mulher na Grécia Antiga, de
algumas formas subvertendo o senso comum de que por não serem cidadãs, as
mulheres não possuíam conhecimento. É uma peça na qual se faz valer e observar
a interdependência de ações sociais, pois numa concepção weberiana, toda ação
social é interdependente de outra ação social.
A greve de sexo, por exemplo, nas palavras
da própria Lisístrata, é a certeza de salvação da pátria. Ou seja, em sua ação
social – social, pois tem como objetivo a resposta de outros indivíduos da
sociedade – e nas das demais mulheres, há um motivo e um objetivo em vista, que
têm como ponto de conexão, como agente social, as próprias mulheres. O motivo
seria a guerra feita pelos homens e o objetivo, acabar com essa guerra. Fica
evidente também a interdependência das ações, pois a ação social dos homens, o
fazer guerra, o conquistar territórios, seria afetado pela ação das mulheres.
O foco da greve de sexo não é, somente,
apenas desagradar a vontade dos homens, mas também enfatizar a importância das
próprias mulheres na composição do povo grego, seu empoderamento. Afinal, se
não houvesse sexo, nem mulheres, não haveria gravidez e portanto, nenhum novo
indivíduo que pudesse substituir os homens mortos na guerra ou nas cidades. A
greve portanto, vai além e decreta a possibilidade de extinção do povo grego. O
fim da cultura grega. São inúmeras etapas de composição de uma ação social, que
reflete em inúmeras outras ações.
Para Weber, o indivíduo age guiado por seus
motivos, que podem ser os mais variados; sua cultura e suas tradições. E o
cientista, por mais que tente ser durkheimianamente neutro, sempre adotará uma
perspectiva em sua análise, e portanto, produzirá uma explicação parcial da
realidade. Um mesmo acontecimento pode ter causas econômicas, políticas,
religiosas; todas ao mesmo tempo. No caso da guerra entre cidades estado
gregas, as mulheres não analisaram quais os motivos a levaram a acontecer, mas
consideraram apenas sua existência e uma forma de finalizá-la.
Há também outra passagem em Lisístrata, na
qual as mulheres ocupam a acrópole de Atenas e se auto-instituem cuidadoras do
Tesouro. Cuidando do dinheiro lá guardado, as mulheres tem por objetivo impedir
que esse seja usado para fazer guerra, administrando-o e garantindo a segurança
dos homens, mesmo contra a vontade deles. Essa ação pode ser configurada como
uma ação racional com relação a fins, pois cuidar do dinheiro evitaria que ele
fosse utilizado para a guerra. Também pode ser usada como uma ação afetiva,
pois as mulheres rompem com a tradição a fim de impedir que a guerra continue e
seus maridos e filhos morram. Weber acredita que as ações sociais são causadas
por múltiplos fatores e que o indivíduo não age apenas conforme uma delas, mas
conforme várias delas ao mesmo tempo, misturadas. Os homens participarem da
guerra, por exemplo, é uma forma de ação tradicional e alguns cidadãos tentarem
impedir que as mulheres ocupassem a acrópole, por exemplo, é um exemplo de ação
racional em relação a valores, pois aos valores daqueles indivíduos, as
mulheres não poderiam cuidar do dinheiro público (argumento rebatido por
Lisístrata durante a peça).
A comédia Lísistrata, portanto, pode ser
analisada de diversos pontos pela teoria weberiana, inclusive os tipos de
dominação. As relações políticas de poder e dominação, divididas em dominação
legal, tradicional e carismática, são, por exemplo, expostas respectivamente na
autoridade conferida aos ministros e comissários da peça, que argumentam com as
mulheres para por fim à greve e à guerra; na passagem de episódios onde as
mulheres relatam submeter-se às ordens dos maridos dentro de casa e na própria
autoridade que Lisístrata assume durante a peça, convencendo mulheres gregas de
diversas cidades-Estado a aderirem à greve.
Aristófanes, portanto, através de (propositalmente) uma comédia, faz uma crítica à guerra na sociedade grega e expõe que por trás de um motivo aparentemente pueril há uma grande reflexão sobre o papel dos indivíduos na sociedade, a importância do pensamento reflexivo e a ação organizada com objetivos. Justamente por tais características, Lisístrata pode ser tão bem comparada à teoria weberiana, teoria esta composta essencialmente pela reflexão e ponderação sobre toda e qualquer ação social individual, que Weber acredita ser a concretização das normas sociais.
Aristófanes, portanto, através de (propositalmente) uma comédia, faz uma crítica à guerra na sociedade grega e expõe que por trás de um motivo aparentemente pueril há uma grande reflexão sobre o papel dos indivíduos na sociedade, a importância do pensamento reflexivo e a ação organizada com objetivos. Justamente por tais características, Lisístrata pode ser tão bem comparada à teoria weberiana, teoria esta composta essencialmente pela reflexão e ponderação sobre toda e qualquer ação social individual, que Weber acredita ser a concretização das normas sociais.
Mariana Ferreira Figueiredo
1º ano de Direito (Diurno)
Introdução à Sociologia - Aula 10
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