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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A cada ação um valor, uma emoção

Nosso destino não está escrito nas estrelas, mas em nós mesmos.
(William Shakespeare)

         No Brasil, em uma cidade interiorana conservadora vivia uma família tradicional, religiosa, composta por um adorável casal e seus três filhos. A eles, os pais sempre fizeram tudo o que podiam, dando-lhes uma boa educação e uma vida de conforto, além de todo o amor que possuíam. Uma tarde, o irmão mais velho, sentado diante da televisão, levanta-se, pega uma faca que guardara em seu quarto, vai até o pai e o apunha-la. O crime chocou a pacata cidade, que buscou diversas razões na família para prever aquele comportamento, mas nada encontrou e o ocorrido acabou sendo esquecido com o tempo. Anos depois, porém, o segundo irmão sai de seu quarto, olha para o terceiro irmão num apelo mudo, mas este não se move, abre a porta de sua casa e jamais volta. O segundo menino, logo após, empurra a mãe do alto do prédio em que viviam, pulando logo em seguida. Novamente o choque, agora impera a busca ardente de uma razão no determinismo, mas não havia nada que pudesse comprovar alguma motivação. O terceiro irmão, contudo, viveu uma vida tranquila em uma cidade vizinha, sem jamais cometer qualquer atividade criminosa. O que explicaria, afinal, tamanha tragédia? Analisemos os fatos. As crianças viveram durante sua vida uma série de abusos por parte do pai e conviveram com a negligência por parte da mãe. O primeiro irmão, revoltado, decidiu por matar o pai e logo após se suicidar, realizou a primeira parte, mas seus valores religiosos eram fortes demais para que tirasse sua vida, portanto desistiu do intento, a imagem da mãe se apegando em sua cabeça. O segundo irmão, conforme amadurecia, mais a raiva de sua mãe lhe atormentava, durante vários momentos pegou-se imaginando tirar-lhe a vida, sua maldade inerente regozijando. Quando, por um impulso de ódio cometeu a ação, não pode evitar a sensação de vergonha por si mesmo que acabou lhe consumindo, o que o fez cometer suicídio logo em seguida. O terceiro irmão, em contradição, apesar de ter vivido no mesmo ambiente, passado pelos mesmos abusos, escolheu não participar das ações por vontade própria, prezava demais pela justiça e, por ser o mais bondoso, não se via capaz de cometer tal ato hediondo. Portanto, viveu sua vida tranquilamente, baseando- se em seu senso de justiça e esquecendo, com o tempo, do fato ocorrido.
       Assim, em uma história fictícia, mas que poderia facilmente acontecer (e de fato acontece, como o caso de Karina Sandoval, que matou o próprio filho para vingar-se do marido) vê-se em todas as suas notas o cerne da filosofia compreensiva: a ação social determinada por um sentido e movida por valores. De fato, Max Weber estabelece a existência de quatro tipos de ação social, sendo sempre o juízo de valor o ponto de partida para a ação. O pensador, também, diz que a sociologia deve levar em conta que, mesmo quando se trata de entes coletivos, está em foco a ação de indivíduos (como no caso da Instituição da família, que é moldada pela ação humana individual). Faz, além disso, uma análise que exclui a ideia de que o fato social seria pautado em determinismos (como proposto por Durkheim) e critica a teoria do materialismo histórico, cuja aplicação forçada faz o rebaixamento das demais causas. Outro ponto também trabalhado é o tipo ideal, que não corresponde a algo que deve ser, mas sim ao objetivamente possível. Exemplo disso, na história acima, seria a necessidade de imaginar a ideia de família como é vinculada em sua maneira ideal e como ela realmente é no plano concreto, permitindo determinar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente.

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