A cada ação um valor, uma emoção
Nosso destino não está escrito nas estrelas, mas em
nós mesmos.
(William Shakespeare)
No Brasil, em uma cidade interiorana conservadora
vivia uma família tradicional, religiosa, composta por um adorável casal e seus
três filhos. A eles, os pais sempre fizeram tudo o que podiam, dando-lhes uma
boa educação e uma vida de conforto, além de todo o amor que possuíam. Uma
tarde, o irmão mais velho, sentado diante da televisão, levanta-se, pega uma
faca que guardara em seu quarto, vai até o pai e o apunha-la. O crime chocou a
pacata cidade, que buscou diversas razões na família para prever aquele
comportamento, mas nada encontrou e o ocorrido acabou sendo esquecido com o
tempo. Anos depois, porém, o segundo irmão sai de seu quarto, olha para o
terceiro irmão num apelo mudo, mas este não se move, abre a porta de sua casa e
jamais volta. O segundo menino, logo após, empurra a mãe do alto do prédio em
que viviam, pulando logo em seguida. Novamente o choque, agora impera a busca
ardente de uma razão no determinismo, mas não havia nada que pudesse comprovar
alguma motivação. O terceiro irmão, contudo, viveu uma vida tranquila em uma cidade
vizinha, sem jamais cometer qualquer atividade criminosa. O que explicaria,
afinal, tamanha tragédia? Analisemos os fatos. As crianças viveram durante sua
vida uma série de abusos por parte do pai e conviveram com a negligência por
parte da mãe. O primeiro irmão, revoltado, decidiu por matar o pai e logo após
se suicidar, realizou a primeira parte, mas seus valores religiosos eram fortes
demais para que tirasse sua vida, portanto desistiu do intento, a imagem da mãe
se apegando em sua cabeça. O segundo irmão, conforme amadurecia, mais a raiva
de sua mãe lhe atormentava, durante vários momentos pegou-se imaginando tirar-lhe
a vida, sua maldade inerente regozijando. Quando, por um impulso de ódio
cometeu a ação, não pode evitar a sensação de vergonha por si mesmo que acabou
lhe consumindo, o que o fez cometer suicídio logo em seguida. O terceiro irmão,
em contradição, apesar de ter vivido no mesmo ambiente, passado pelos mesmos
abusos, escolheu não participar das ações por vontade própria, prezava demais
pela justiça e, por ser o mais bondoso, não se via capaz de cometer tal ato
hediondo. Portanto, viveu sua vida tranquilamente, baseando- se em seu senso de
justiça e esquecendo, com o tempo, do fato ocorrido.
Assim, em uma história fictícia, mas que
poderia facilmente acontecer (e de fato acontece, como o caso de Karina
Sandoval, que matou o próprio filho para vingar-se do marido) vê-se em todas as
suas notas o cerne da filosofia compreensiva: a ação social determinada por um
sentido e movida por valores. De fato, Max Weber estabelece a existência de
quatro tipos de ação social, sendo sempre o juízo de valor o ponto de partida
para a ação. O pensador, também, diz que a sociologia deve levar em conta que,
mesmo quando se trata de entes coletivos, está em foco a ação de indivíduos (como
no caso da Instituição da família, que é moldada pela ação humana individual).
Faz, além disso, uma análise que exclui a ideia de que o fato social seria
pautado em determinismos (como proposto por Durkheim) e critica a teoria do
materialismo histórico, cuja aplicação forçada faz o rebaixamento das demais
causas. Outro ponto também trabalhado é o tipo ideal, que não corresponde a
algo que deve ser, mas sim ao objetivamente possível. Exemplo disso, na
história acima, seria a necessidade de imaginar a ideia de família como é vinculada
em sua maneira ideal e como ela realmente é no plano concreto, permitindo determinar o grau de
aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente.
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