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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Empreenda-te

Escultura: Self Made Man (bronze, EUA). Bonnie Carlyle.

Em suas análises sobre o capitalismo ao final do séc. XIX, Max Weber (1864-1920) distingue o empreendedor do burguês. O burguês propõe-se ao lucro, à acumulação, à exploração e a um propósito qualquer ou fugaz; o burguês é um tipo social com resquícios do período feudal. Já o empreendedor é fruto da sociedade capitalista; ele tem disposição para o trabalho, age com racionalidade e competência e atua de acordo com uma ética. São indivíduos específicos e determinados a desempenhar o papel do novo capitalista. 

Naquele momento, o empreendedor de Weber enfrentava as adversidades que o ambiente mantido pelos burgueses impunha aos que representavam qualquer ameaça ao status quo. A ameaça do empreendedor era a necessária reinvenção que o capitalismo exigia de todos. O empreendedor que insurgia e se estabelecia era elevado à categoria de herói. A ideologia clamava pelo engajamento ao capitalismo. 

A crise do Estado do bem-estar social trouxe uma valorização ainda maior da importância do empreendedor em um capitalismo de mercado. As supostas benesses do livre mercado estão envoltas em um discurso por um indivíduo autônomo, o self made man que, para Benjamin Franklin, é “quem tem caráter, trabalha, trabalha e trabalha, vence”, um tipo gerador de inovação e de riquezas. O discurso em prol do empreendedorismo é ampliado. 

A importância desse tipo especial de capitalista é tamanha que o próprio Estado estimula o engajamento das pessoas. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) busca fortalecer a cultura empreendedora no Brasil. Para isso, o seu discurso é pela ação do próprio indivíduo em busca da satisfação de suas necessidades. Para tanto, promove palestra que difundem a cultura empreendedora, dá consultoria a pequenos empresários e ministra alguns cursos como o Empretec, que nas palavras do próprio Sebrae consiste em: “metodologia que proporciona o amadurecimento de características empreendedoras, aumentando a competitividade e as chances de permanência no mercado”. 

A “permanência no mercado” atinge aquele trabalhador que está desempregado e não encontra mais realocação em um mercado de trabalho cujas relações estão cada vez mais desfavoráveis ao trabalhador. O Estado se nega a intervir nessa relação em prol do trabalhador, mas apresenta supostas soluções como se todos os indivíduos tivessem o atributo empreendedor latente, bastando “o amadurecimento de características empreendedoras”. 

Na abordagem atual, o empreendedor é o indivíduo que se torna empresa, sem distinção entre trabalho e sua vida privada no livre mercado. 

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