Escultura: Self Made Man (bronze, EUA). Bonnie Carlyle. |
Em suas
análises sobre o capitalismo ao final do séc. XIX, Max Weber (1864-1920)
distingue o empreendedor do burguês. O burguês propõe-se ao lucro, à
acumulação, à exploração e a um propósito qualquer ou fugaz; o burguês é um
tipo social com resquícios do período feudal. Já o empreendedor é fruto da sociedade
capitalista; ele tem disposição para o trabalho, age com racionalidade e competência
e atua de acordo com uma ética. São indivíduos específicos e determinados a
desempenhar o papel do novo capitalista.
Naquele
momento, o empreendedor de Weber enfrentava as adversidades que o ambiente
mantido pelos burgueses impunha aos que representavam qualquer ameaça ao status
quo. A ameaça do empreendedor era a necessária reinvenção que o capitalismo exigia
de todos. O empreendedor que insurgia e se estabelecia era elevado à categoria
de herói. A ideologia clamava pelo engajamento ao capitalismo.
A crise do
Estado do bem-estar social trouxe uma valorização ainda maior da importância do
empreendedor em um capitalismo de mercado. As supostas benesses do livre
mercado estão envoltas em um discurso por um indivíduo autônomo, o self made
man que, para Benjamin Franklin, é “quem tem caráter, trabalha, trabalha e
trabalha, vence”, um tipo gerador de inovação e de riquezas. O discurso em prol
do empreendedorismo é ampliado.
A importância
desse tipo especial de capitalista é tamanha que o próprio Estado estimula o
engajamento das pessoas. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) busca fortalecer a cultura empreendedora no Brasil. Para
isso, o seu discurso é pela ação do próprio indivíduo em busca da satisfação de
suas necessidades. Para tanto, promove palestra que difundem a cultura
empreendedora, dá consultoria a pequenos empresários e ministra alguns cursos
como o Empretec, que nas palavras do próprio Sebrae consiste em: “metodologia
que proporciona o amadurecimento de características empreendedoras, aumentando
a competitividade e as chances de permanência no mercado”.
A “permanência
no mercado” atinge aquele trabalhador que está desempregado e não encontra mais
realocação em um mercado de trabalho cujas relações estão cada vez mais
desfavoráveis ao trabalhador. O Estado se nega a intervir nessa relação em prol
do trabalhador, mas apresenta supostas soluções como se todos os indivíduos tivessem
o atributo empreendedor latente, bastando “o amadurecimento de características
empreendedoras”.
Na
abordagem atual, o empreendedor é o indivíduo que se torna empresa, sem distinção
entre trabalho e sua vida privada no livre mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário