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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Comte e os rolezinhos

            É para mim certo, que a decisão judicial que proíbe os rolezinhos é mais próxima ao pensamento positivista do que aquela que o permite. O positivismo, como bem estudamos, é uma doutrina do século XIX que vem promover a organização social, a racionalidade científica absoluta, a disciplina social, o apego àquilo que é concreto e objetivo e a segmentação absoluta de funções e da própria ciência, já manifestados por Bacon e Descartes em outros momentos, e sacramentados por Comte com uma lógica ainda mais apegada ao material e ao aspecto positivo das coisas. É assim que no estudo da história, por exemplo, o historiador deve se ater à documentação como único lastro do passado, ou como na sociologia, seu estudioso deve se ater a pensar uma sociedade funcional e pouco dinâmica. Nesse sentido, o espaço Comteano, o espaço físico de desenvolvimento das relações também não pode ser corrompido por uma lógica subjetiva, ou torpe. A ideia de que uma manifestação como o “rolezinho”, que leva jovens da periferia paulistana ao centro do capitalismo comercial, ao simulacro da cidade perfeita das classes mais abastadas, é nada mais que um pensamento corrosivo e pouco racional, uma vez que um espaço que é destinado a determinado fim está sendo utilizado para outro e que um determinado grupo de pessoas está tentando forçosamente se inserir em um lugar que não lhes cabe na lógica que delimitou os espaços dessa sociedade. Citando o próprio juiz que condenou a manifestação “rolezeira”, “é certo que além de o espaço ser IMPRÓPRIO para manifestação contra questão que envolve Baile Funk”, ou seja, não há propriedade racional que justifique o uso daquele espaço específico. O “rolezinho” Comteano não pode existir senão dentro do seu espaço específico: a periferia. Por isso que é tão difícil afirmar que as ideias de Comte estão ultrapassadas, uma vez que a organização das nossas cidades está tão ligada à racionalização cruel (cruel no sentido de praticamente não combatível) dos espaços própria do pensamento positivista.


Victor Abdala – 1º ano – Direito (NOTURNO)

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