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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Rolezinho pela visão Comtiana

Quando analisamos o fenômeno do “rolezinho” e sua polêmica, devemos, claro, ser cautelosos e racionais. Desse modo, podemos observar nele características que o tornam não tão original, mas previsível.
Uma máxima do pensamento de Auguste Comte é a expressão “ordem e progresso”. É em torno da “ordem” que se concentra boa parte dos estudos comtianos. Sociedades do mundo todo e, sobretudo, do Brasil, recebem daí grande influência, que pode ser observada na efervescência de debates e manifestações quando algo sai da normalidade, ou seja, da tal “ordem”.
O rolezinho é um exemplo de organização fora da considerada padrão. Quando uma multidão de jovens da periferia se reúnem em um local frequentado predominantemente pelas classes mais altas, a tendência é a de haver um estranhamento pela “mudança” em si só. É importante, entretanto, exercermos sobre o fato um olhar crítico.
Nossa sociedade é carregada de preconceito e isso foi determinante para que houvesse grande “resistência” ao movimento dos rolezinhos. A situação piorou quando surgiram notícias de baderna, roubos e até arrastões nos estabelecimentos comerciais, o que serviu de pretexto para a adoção de discursos e medidas não só preconceituosos, mas segregacionistas.
Comparada ao apartheid, uma das respostas foi a de proibir, até mesmo através de liminares, a entrada ou permanência de alguns indivíduos nos estabelecimentos. Sob o ponto de vista da classe alta, o movimento era uma ameaça à segurança nos recintos e atrapalharia o “bom uso” dos mesmos. Sua vontade foi acatada pelo juiz Alberto Gibin Villela, que deferiu uma liminar impedindo que um encontro dos jovens acontecesse em um shopping center paulistano.
Tal providencia foi sim preconceituosa e segregacionista, uma vez que pré-julgou as intenções de um grupo de indivíduos com características em comum (e que, a princípio, não mostrava intenção criminosa) e feriu a liberdade do mesmo ao não permitir que ele usufruísse do seu direito de ir e vir – o shopping é uma propriedade privada, mas destinada ao acesso público.

Nesse contexto, encontramos uma grande crítica ao pensamento positivista: nele, há uma tendência de a ordem ser imutável, não aceitando alterações na organização. A resposta tão precária do Estado no meio disso mostra o quanto o sistema tende a ser intolerante a novas ideias e comportamentos.

Leonardo Nicoletti D'Ornellas - 1º Ano - Direito Diurno

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