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domingo, 27 de março de 2016

A vida sente a si mesma

  O filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro de mesmo nome escrito pelo ecologista austríaco Fritjof Capra, desenvolve-se a partir do diálogo de três pessoas acerca dos problemas e questões que envolvem o mundo contemporâneo. As personagens iniciam uma discussão caracterizada por fazer uma crítica direta à persistência da forma cartesiana e mecanicista de pensamento utilizada pela ciência moderna a fim de compreender o mundo, ou seja, o pensamento científico ainda vê cada ser vivo como uma máquina que metodicamente realiza apenas uma função.
  De fato, essa visão cartesiana acabou influenciando todo o posterior pensamento científico que foi elaborado, uma vez que, como os seres vivos são metaforicamente comparados a objetos que apresentam um único ofício, desenvolveu-se a partir de então um modo de raciocínio marcado pela linearidade. Contudo, tal modo objetivo não é verdadeiro de acordo com o filme, visto que este acredita que os seres vivos estão interligados por complexas teias de relacionamentos, as quais não apresentam uma única direção possível, mas várias.
  O problema da superpopulação no planeta foi abordado como resultante de uma série de fatores que interligados culminaram na sua existência, e esta problemática só poderia ser solucionada se os métodos a fim de evitá-la não forem analisados isoladamente, isto é, com um modo de raciocínio linear que visa apenas uma possibilidade de fim. Além disso, um tópico muito discutido no filme é o ritmo de crescimento alucinante de algumas nações que vai de encontro com políticas de sustentabilidade; a personagem Sônia afirma que não há necessidade de tal crescimento exacerbado, mas que é necessário frear esse processo para as próximas gerações e isto acontecerá quando houver uma mudança na percepção do mundo, não mais como um instrumento, mas como um ser vivo.
  Em suma, as personagens concluem que resumir a vida a um objeto, como a máquina do pensamento cartesiano, é uma incoerência, pois a vida não é condensável dessa forma, mas ela sente a sim mesma.



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