Uma das questões que permeou a educação brasileira
na última década foi a discussão acerca do ensino de Filosofia e Sociologia no
Ensino Médio, finalmente resolvida em 2008, com a decisão pela obrigatoriedade
do ensino das matérias. Os defensores de tal medida se manifestavam tendo como
base a necessidade de situar o aluno em relação ao mundo a seu redor,
permitindo que ele refletisse sobre questões essenciais da vida em sociedade e assim
tivesse uma formação humanista, enquanto seus detratores diziam que ambas as
matérias poderiam ser ensinadas no decorrer de outras disciplinas, sem haver a
necessidade de estender ainda mais a carga horária dos estudantes. O fato é
que, independente do lado escolhido ou da argumentação utilizada, pela primeira
vez foi colocado em pauta a Filosofia e a Sociologia como instrumentos para a
vida prática dos cidadãos.
Embora muitos ainda prefiram acreditar que tais
áreas do conhecimento sejam apenas uma “completa abstração”, uma parcela
considerável da população atual já tem em mente que, sem recorrer a pensamentos
ou questões já levantadas por grandes filósofos e sociólogos, é impossível
pensar de forma racional as questões da contemporaneidade e, consequentemente,
intervir nelas. É justamente desta pauta
que trata o filme “Ponto de Mutação”, dirigido em 1990 por Bernt Capra, em que
uma física, um poeta e um político passam uma tarde apenas utilizando as mais
variadas visões de mundo para entenderem o mundo a seu redor.
À medida em que os três protagonistas da obra adentram
questões mais complexas, como o ambientalismo, o conservadorismo e o uso
político da ciência, eles vão questionando não só o mundo em que habitam, mas também
à si próprios, em um processo de autoconhecimento que os encaminha até a
própria essência da natureza humana. Sonia, a física, por exemplo, passa a
questionar a finalidade de todo seu tempo de dedicação científica; o político
Jack, a possibilidade de se efetivar todo o seu idealismo político; e o poeta
Thomas, se não seria mais um escapista como considera os seus colegas.
Dessa forma, voltamos ao debate acerca da Filosofia
e Sociologia, pois percebemos que, mais do que mecanismos para dar sentido ao
universo, são mecanismos para darmos sentidos às nossas próprias vidas e à
forma como compreendemos a vida em si (vide
as sequências finais do filme citado). Sem questionar e indagar, nossa própria
vida passa a ser guiada quase que de forma automática, sem aquele ponto de mutação que muitas vezes
precisamos para conseguir enxergar os elementos de um mundo tão dinâmico e
complexo.
Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
Direito Matutino - 1º Ano
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