O ser humano
sempre se pautou pelo seu racionalismo, utilizando-se disso como subterfúgio
para mascarar seus instintos mais primitivos. Inúmeras exemplificações poderiam
ilustrar esse aspecto animalesco do ser humano, como por exemplo, o caso Geisy
Arruda, no qual a mesma necessitou ser escoltada por policiais para sair da sua
faculdade, pois tornou-se um alvo vulnerável frente à milhares de estudantes que
a julgaram por um mini-vestido rosa. Porque programas como “Brasil urgente”,
que restringem-se a externar casos de violência de modo sensacionalista,
apresentam alta audiência?
Sob o âmbito psicanalítico,
Freud desenvolve o conceito de id, "nós
chamamos de (...) um caldeirão cheio de axcitações fervescentes. [O id] desconhece o
julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade" (Freud, 1933, p. 74).
Diante disso, percebe-se nitidamente que os ímpetos humanos, mesmo que
inconscientes, manifestam-se nessa espécie que se julga tão superior.
Sob
o âmbito sociológico, destaca-se com maestria Durkheim em sua obra “A divisão do
trabalho”, no qual desenvolve importantes conceitos almejando compreender mais
profundamente os padrões de conduta humana. O cerne alicerça-se na solidariedade
mecânica e a orgânica.
Durkheim
define a solidariedade mecânica como uma premissa presente nas sociedades
pré-modernas, no qual a conduta social é norteada por autoridades
transcendentais, majoritariamente legitimadas pela religião. A máquina jurídica
é impulsionada pelo caráter punitivo, no qual o crime é visto com um aspecto
meramente excludente e não ressocializador. Cabe uma ressalva, pois essa
análise explicita uma ótica positivista, severamente criticada por
antropólogos, pois julgam superficial tal análise.
A
solidariedade orgânica reflete os anseios das sociedades pós-modernas,
estabelecendo a racionalidade como pilar central no julgamento dos
comportamentos sociais, além de almejar-se a impessoalidade. Todo o aspecto
punitivo anteriormente mencionado substitui-se por normas jurídicas
restitutivas, retratando os criminosos e delinquentes como seres enfermos de um
corpo social maior e que necessitam ser sarados.
Uma
grande falácia seria a retratação da sociedade moderna como pautada exclusivamente
pela solidariedade orgânica. De acordo com dados recentes divulgados pelo NEV(Núcleo
de Estudos de Violencia), a maioria da população de 11 capitais brasileiras
defende a pena de morte ou prisão perpetua para estupradores( 73,8%), o que
reflete novamente a intensa presença da solidariedade mecânica que sempre estará
arraigada, não podendo ser contida,mas somente amenizada. Portanto, o tão louvado Homo sapiens poderia ser substituído por um Homo instinctu.
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