Ao discorrer sobre a
solidariedade mecânica, Durkheim se referia principalmente às sociedades
primitivas. Segundo ele, os pré-modernos baseavam seus conceitos na
passionalidade, dando ênfase à consciência coletiva, principalmente.
Mas, ainda segundo Durkheim, nas
sociedades modernas, a solidariedade mecânica dá lugar à orgânica e a
passionalidade abre espaço à racionalidade. A própria complexidade social das
comunidades modernas força a solidariedade mecânica a
se modificar e se especializar, reforçando os laços entre as pessoas.
Enquanto nas sociedades
primitivas o direito penal, punitivo, se prevalecia, na solidariedade orgânica
passa a prevalecer o direito restitutivo, buscando sempre reestabelecer as
coisas aos seus devidos lugares. Passa, então, a prevalecer a racionalidade nas
relações e operações jurídicas.
Apesar desta intensa mudança nas
relações sociais e jurídicas, o impulso que marcava a solidariedade mecânica e
as sociedades pré-modernas ainda se mostra presente na atualidade. Acreditamos
nos encontrar num estágio avançado e racional das relações interpessoais e,
apesar da sempre presente racionalização “de tudo”, o impulso da punição e
agressão contra aquilo que fere os nossos conceitos de “moral e bons costumes”
ainda é bastante presente.
Seria esta a explicação para o
fato de muitos não aceitarem situações que vão contra o que acreditam ser a
ordem natural das coisas. O casamento homoafetivo, por exemplo, não atrapalha a
funcionalidade, os estudos, os empregos ou a vida de qualquer outro casal
heterossexual. Mas ainda assim, muitos respondem de forma agressiva àqueles que
têm a “ousadia” de realizar ou defender a união entre homossexuais.
Mas se não há uma ameaça real
caso um casamento gay se concretize, porque ainda há tanta represália contra tal
acontecimento? É a presença da solidariedade mecânica que, disfarçada de moral,
desperta os impulsos e preconceitos humanos.
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