A partir de uma nocao de solidariedade mecânica, forjada por Durkheim, pode-se verificar a
forte influência dos costumes e da religiao na consciência coletiva. De modo
nao diferente, o Direito se mostrou historicamente ligado à esta solidariedade mecânica de maneira que
nao somente as penas vinculadas ao Direito mas também o sentimento de culpa
estao ligados à valores historico-sociais e, nesta medida, contingentes. Em um segundo
momento, é apresentada, pelo sociólogo, a idéia de solidariedade orgânica, e um modo de interdependência entre seus
integrantes que cumprem funcoes específicas, de forma a garantir certa coesao
social.
O protagonista do romance russo de Dostoiésvki,
Crime e Castigo, exemplifica essa relacao e nao está isento de
fortes valores cristaos, partilhados por outros personagens do livro, também
verificados na sociedade retratada, bem como uma constante nocao de redencao após
a execucao do crime. Nesta perspectiva, talvez se mostre pertinente a dúvida
sobre a racionalizacao do Direito, nao visto como uma ciência em sua tradicional
e aristoélica concepcao, mas como racionalizacao e legitimacao de aspectos
culturais e como uma disputa institucional de poder. A nocao tradicional e
aristotélica de ciência presume universalidade e certa relacao com a nocao de
verdade. Vincular o Direito à uma nocao de verdade poderia acarretar graves
problemas, comecando pelo seu caráter histórico-social ou cultural, como já
visto anteriormente. Quanto a universalidade da disciplina em questao, fica
evidente os problemas enfrentados por esta para a construcao de uma pauta de
direitos humanos, e ainda maior é a dificuldade quanto a aspectos mais específicos
do Direito em diversas culturas.
Se porém, adotar-se a nocao de ciência como simplesmente
conhecimento racional possuidor de um arcabouco teórico, deveria-se adotar
muitas outras formas de conhecimento como ciência, e assim corre-se o risco de se
esvaziar o próprio conceito de ciência. Assim, nessa matiz de preto e branco,
talvez possa ser pensado o cinza do Direito como mais próximo de uma racional
disputa de poder do que propriamente uma ciência, de modo a garantir uma maior
fluidez e a possibilidade da revisao de sua norma.
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