Podemos observar um fenômeno curioso que ocorreu
em várias fases da História e está presente ainda nos dias atuais. É quando
algum tipo de massa se une inexplicavelmente, com um sentimento de proteção,
medo, horror, de modo espontâneo. Uma propagação rápida de um sentimento, o que
dificilmente vemos quando um grupo tenta mobilizar a sociedade, que permanece
em estado de letargia.
Segundo Durkheim em "A divisão social do
trabalho", há um sentimento que permeia as consciências de todos os seres
dentro de uma sociedade. Esse sentimento- chamando pelo sociólogo como
“solidariedade mecânica”- possui traços passionais e, portanto, uma reação
violenta, impulsiva a determinados acontecimentos.
Essa solidariedade mecânica reflete muito nos
diversos códigos penais. Ao se criarem as penas, levava-se em conta,
no estado a priori do direito penal, o que seria crime ou não segundo a consciência
coletiva- ou seja, o que é considerado pelas pessoas de determinada sociedade um
crime. Assim, o direito penal surge primeiramente como um direito punitivo, que
tenta exercer seu poder coercitivo e coativo entre a população, demonstrando
força, legitimidade, soberania e perigo.
Mas, com o tempo e com as consequências desse
direito punitivo, um grupo começa a perceber que existem situações que
favorecem a ocorrência dos crimes e também os mais variados motivos que levam
um indivíduo a cometê-lo. Portanto, mesmo punindo tal indivíduo não cessarão os
crimes porque o problema em si não é apenas o indivíduo. Assim, o direito restitutivo
começa a ser valorizado em detrimento do punitivo.
Entretanto, ainda há uma imaturidade que não permite
que a sociedade como um todo compreenda o criminoso como um problema que
abrange diversos aspectos e não apenas maldade, falta de caráter, etc. E, nessa
imaturidade, manifesta-se a solidariedade mecânica, tratando os criminosos sem
respeito, pessoas clamando por penas cruéis, entre outros. Isso também representa
uma falta de visão coletiva dessa sociedade, que acaba negando todos os avanços
do direito penal, e, ferozmente, tenta voltar aos nossos primórdios. Mas já
diziam, olho por olho, dente por dente e o mundo acabará cego e desdentado!
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