A pena de morte é um
tema bastante polêmico em nosso país. Já fora pauta de diversos debates
fervorosos, tanto nos bares como em redações para vestibulares e discursos
políticos. É uma proposta que já passou, portanto, pela vida de todo o
brasileiro, o qual teve que optar por defendê-la ou negá-la. E embora, a
maioria da população ainda seja contra, a disputa entre os dois lados está cada
vez mais acirrada. Um exemplo desse embate é o artigo publicado no dia 19 de
outubro de 2011 no “site” do Estadão: “Nos últimos 12 meses, quatro em cada
cinco brasileiros mudaram de hábitos por causa da violência. Como resultado
direto, também é cada vez maior o número de pessoas a favor de punições
maiores, incluindo pena de morte, prisão perpétua e diminuição da maioridade
penal. Em alguns casos, defende-se até a violência policial. É o que mostra
pesquisa CNI/Ibope sobre segurança, feita em julho, com 2.002 pessoas em 141
cidades. Mesmo concordando com o uso de penas alternativas em casos de delitos
leves, 83% dos entrevistados acredita que penas mais severas reduziriam a
criminalidade. A maioria reclama que a impunidade vem aumentando. Mais da
metade (51%) apoia totalmente a prisão perpétua, inexistente no Brasil. Um
porcentual significativo - 31% - defende a adoção da pena de morte e outros 15%
acham que pode ser justificada em alguns casos”. De tudo isso a pergunta que
nos resta é: por que uma quantidade tão grande de pessoas defende a pena de morte
no Brasil?
Um indivíduo pouco atento diria,
provavelmente, que a pena de morte é tão defendida em razão da carente educação
brasileira. Todavia, tal afirmação não estaria correta, ou ao menos não,
plenamente, correta. Isso se deve ao fato de que por vezes vemos indivíduos com
cursos de graduação fazendo apologias a favor dessa prática. Outros cidadãos,
não mais atentos, diriam que tal defesa é fruto exclusivo do caráter agressivo
do ser humano. Entretanto essa resposta também não seria suficiente para essa
pergunta que extravasa em demasia o lado psicológico do ser humano e adentra
toda a sociedade.
Durkheim em seu segundo capítulo, do
livro “Da Divisão do Trabalho Social”, nos dá uma resposta que parece ser mais
verdadeira, devido ao fato de poder ser explicada por meio de exemplos ao longo
de toda a história das civilizações humanas. Segundo o autor, as sociedades são
permeadas pela solidariedade e sobrevivem graças à essa. Nesse sentido a
solidariedade mecânica seria a mais encontrada nas sociedades ditas primitivas
que, em geral, são mais preocupadas com o coletivo do que com a liberdade
individual. Logo seria essa solidariedade a responsável pela fundação das
prerrogativas do direito penal e, portanto, da pena de morte.
Já nas sociedades ditas mais
evoluídas, a divisão do trabalho cada vez mais especializada, iria promover uma
maior liberdade individual produzindo a chamada solidariedade orgânica que
busca não praticar a vingança e sim fundamentar o chamado direito restitutivo
(direito civil, trabalhista, etc.). Isso se deve ao fato de que conforme os
indivíduos se especializam mais em determinadas tarefas mais necessitam de
outros para as outras tarefas, o que acaba aumentando a importância de cada um
na sociedade.
Talvez o único fato que Durkheim e
vários de seus contemporâneos não previram é que mesmo as sociedades tendo se
racionalizado tanto, a solidariedade mecânica ainda possui um espaço bastante
generoso, mesmo que menor do que o da solidariedade orgânica. E é esse espaço
que justifica a existência de um numero tão elevado de pessoas que defendem a
pena de morte.
Por fim, fica evidente que para
entendermos as causas que levam os indivíduos de nosso país a defenderem a pena
de morte, é muito importante não esquecer o fator sociológico, pois somente
assim, entendendo como se origina a polêmica da pena de morte, é que os
indivíduos podem se preparar para adotá-la ou não, e também, só assim a ciência
do direito pode evoluir.
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