McCann
discute sobre o poder dos tribunais de justiça nos regimes modernos, uma das hipóteses
que pode explicar isso é a interação estratégica da elite, que garante os
interesses desse grupo minoritário na sociedade. Nesse sentido, temos que os
princípios garantidos pela Constituição Federal são violados constantemente, e
somente através de movimentos históricos, o povo consegue conquistar o que lhes
é de direito fundamental.
A
discussão do Habeas Corpus n.° 154.248/DF, que trata de equiparar a injúria
racial ao racismo, é um exemplo da mobilização do direito, uma vez que o
interesse de um grupo de pessoas motivou essa pauta no Supremo Tribunal
Federal. Entretanto, antes desse tema ser levado ao STF, tiveram que ocorrer inúmeros
movimentos que reivindicassem pelos seus direitos, pois até então, alguns
tribunais, julgavam esse tipo de ofensa como “injúria não-racista”, reafirmando
o racismo estrutural na sociedade.
Em
uma primeira análise, quando o tribunal, que é composto majoritariamente pela
elite branca, julga que a injúria racial é, primordialmente, uma ofensa
individual, temos uma influência indireta, que configura o contexto a ser
seguido. Dessa maneira, o racismo se perpetua na sociedade, infringindo o Art.
5° da CF, que diz que todos são iguais perante a lei. A partir disso, os
tribunais passam a responder pelos movimentos, intervindo de maneira estratégica
nas demandas sociais, fazendo com que as ações anteriores se tornem
negociáveis.
Posteriormente,
cabe ressaltar a importância de enquadrar a injuria racial como racismo, pois algumas
práticas ofensivas não afetam somente uma pessoa, mas um grupo que compartilha
da mesma raça, cor, religião ou etnia, fazendo com que se dê mais importância para
a luta histórica desse povo. Diante disso, entende-se o que causa a impunidade
do racismo, visto que tais ofensas são classificadas como injúria racial
“não-racista”, diminuindo a luta daqueles que são oprimidos pelo sistema
jurídico.
Portanto,
vemos que os grupos oprimidos pela sociedade precisam “negociar” com os
tribunais para efetivar os seus direitos garantidos pela CF, reforçando a noção
de que o direito protege a elite, e o restante precisa lutar para conseguir
obter o mínimo de dignidade e respeito social.
Julia Piva – Noturno.
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